Beleza, saberes, ancestralidade, resistência. A mulher negra com toda a sua significância e significados foi reverenciada na tarde da última segunda-feira (31), durante o evento “Mulheridade Ancestral: Artivismo Preta”, realizado no Forte da Capoeira, no Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador.
A iniciativa, promovida pela Reitoria da UNEB, por meio da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas (Proaf), se destacou enquanto uma atividade artivista, alusiva ao Julho das Pretas, um movimento que, para as mulheres negras brasileiras, representa o enfrentamento aos diversos tipos de racismo e ao machismo que as acometem.
O evento teve como objetivo maior agregar mulheres pretas que, direta ou indiretamente, desenvolvem projetos artístico-acadêmico-sociais, cujos objetivos se relacionam às políticas de ações afirmativas promovidas pela UNEB, além de visibilizar a produção científica, artístico-cultural e de tecnologia social de mulheres pretas.
“A UNEB não poderia estar de fora deste momento, que marca o mês de celebração das mulheres pretas, de celebração dos nossos corpos, da nossa arte, de empoderamento, de nossa poesia. Eventos como este são importantes porque demarcam a nossa posição política enquanto coletivo. A participação ativa da UNEB, sobretudo na execução direta dessas ações, é fundamental porque reforça o nosso compromisso com os princípios e valores institucionais, e, principalmente, dá visibilidade e valoriza as mulheres negras, que são maioria em nossa universidade”, destacou a vice-reitora, Dayse Lago.
Respeito, equidade e justiça
Para celebrar o Julho das Pretas, a UNEB organizou uma programação especial e diferente das ações já realizadas anteriormente. Nesta oportunidade, optou-se por promover um encontro de mulheres pretas, para que se expressassem por meio da arte antirracista e antimachista.
Nesse sentido, o evento reservou diversas intervenções artísticas que ressaltaram o protagonismo de mulheres poetisas, cantoras, instrumentistas e dançarinas.
“O Mulheridade Ancestral: Artivismo Preta nasceu do desejo de visibilizar as potências que existem na nossa universidade. A UNEB, justamente pela sua multicampia, possui uma quantidade muito grande de pesquisadoras, docentes, técnicas e estudantes, e lideranças de movimentos sociais que trabalham conosco na pesquisa e na extensão. São mulheres revolucionárias, que produzem saberes sofisticados, mas que, no cotidiano, são invisibilizadas por suas outras tarefas”, reforçou Dina Maria Rosário, pró-reitora de Ações Afirmativas (Proaf) da UNEB.
A gestora, principal organizadora do evento, pontuou que “este é um momento de reverenciar cada uma dessas mulheres, as nossas parceiras que aquilombam a UNEB com um tipo de feminismo, que é o feminismo negro. Hoje, temos uma reunião, um aquilombamento e um abraço de amor negro dessas mulheres unebianas. É uma felicidade muito grande trazer isso a partir da arte, da poesia, da dança, da música e da moda”, expressou Dina.
O ponto de culminância do evento foi o desfile “Moda Preta”, assinado pela estilista Mônica Anjos. A atividade buscou reconhecer a potência negra feminina das estudantes, pesquisadoras, extensionistas, servidoras e terceirizadas unebianas, além de parceiras dos movimentos sociais e instituições governamentais.
“Costumo dizer que todo corpo negro em movimento é um movimento negro. São várias mulheres que constroem suas narrativas de liderança para abrilhantar este encontro de afeto e de acolhimento”, afirmou Mônica.
A estilista destacou ainda que “trouxemos looks de diversas coleções, inspiradas na ancestralidade, no centenário da bailarina negra Mercedes Batista, trouxemos peças do Caminho das Águas, do Futuro é Ancestral, que foi nossa última coleção desfilada em São Paulo, trouxemos ainda Manifesto e Flores da Favela, que é a inserção da periferia no rolê da moda”, detalhou, reforçando a importância dessa ação para o fortalecimento da parceria afetiva com a UNEB, por intermédio do projeto Quilombo Urbano, criado por ela.
Coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) na Bahia, Samira Soares recebeu o convite para desfilar com entusiasmo.
“Estar hoje aqui neste espaço, participando de um desfile voltado para mulheres negras e inspiradoras, é muito importante e demonstra o quanto a gente tem produzido arte, cultura, afirmando a nossa identidade negra em todos os espaços. Este é um evento de representatividade, que celebra a nossa identidade negra, nossa beleza, mas, sobretudo, reafirma que somos capazes de estar em qualquer espaço que quisermos”, frisou Samira, uma das fundadoras da Marcha do Empoderamento Crespo.
Mulher negra e cultura ancestral
Um dos destaques do evento foi a presença marcante da Negra Jhô, turbancista, trancista, dançarina, atriz e líder religiosa. Jhô é uma referência para mulheres negras em Salvador.
Em uma performance emocionante, Negra Jhô apresentou suas referências ancestrais, por meio da dança, da reverência, do respeito ao povo, ao corpo, à fé.
“É emocionante participar deste evento com a UNEB, ainda mais no Julho das Pretas, um mês de resistência. Essas ações, principalmente aqui no Forte da Capoeira, valorizam nossa ancestralidade, valorizam nossos corpos, valorizam nossa mãe África. Eu sou mulher negra, guerreira, autêntica e líder religiosa. Me fortaleço quando estou aqui neste templo histórico. Salvador é uma mãe e mulher negra. Parabéns a todas as mulheres pretas!”, celebrou Nega Jhô.
O evento contou com a apresentação da banda percussiva TamborAAyó, composta apenas por mulheres. O grupo é regido por Mestra Mônica Millet, percussionista, diretora musical e neta de uma das mulheres negras e líderes religiosas mais importantes do cenário baiano, Mãe Menininha do Gantois. A atividade cultural contou com a participação da professora da UNEB Cláudia Sisan.
As intervenções artísticas reservaram ainda a apresentação de “Poesia Falada”, da egressa da UNEB Adrielle do Carmo; da dança performática “Negra, Preta sim”, com a professora do campus de Itaberaba Aline Damascena; além da performance “Iemanjá é preta”, com a professora de dança da Escola Arte em 8, Renata Oliveira, e a poesia autoral recitada por Cleide Bruno (egressa da UNEB) e Erva Doce.
O Centro Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (Cepaia), o Casarão da Diversidade e o Forte da Capoeira foram apoiadores do evento.
Confira galeria de fotos do evento “Mulheridade Ancestral: Artivismo Preta”
Texto: Wânia Dias/Ascom. Fotos: Danilo Cordeiro/Ascom