
No 2° Seminário Internacional de Geopoética, realizado nos dias 23 e 24 de outubro, na Aliança Francesa, em Salvador, pesquisadores do Brasil e da França discutiram a Geopoética e consideraram possíveis contribuições desse debate para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, que acontece em Belém (PA), em novembro.
“A geopoética nos convida a resgatar a sabedoria dos nossos antepassados, a valorizar a memória e a permitir que ela nos guie. Especialmente em um país como o Brasil, que abriga a Amazônia, um território vasto”, afirmou Giorgios Dimitriads, diretor do Instituto Brasileiro de Geopoética e Paisagens Culturais.
Ele defende as várias acepções agregadas ao conceito da geopoética e entende, por exemplo, que “implica em conduzir a vida com base em uma postura ética, buscando a harmonia com o mundo, não necessitando de um conjunto de regras para alcançar essa harmonia”.

Essa é uma percepção compartilhada pelo presidente do Instituto Internacional de Geopoética, em Lyon, França, Régis Poulet: “A geopoética se posiciona em um discurso de margens, enquanto a COP de 2030 mobiliza as maiores forças do mundo, reunidas em torno desse evento. Creio que alguns buscam promover mudanças, enquanto outros, infelizmente, parecem mais interessados em manter o status quo.”, declarou Poulet.
Os pesquisadores concordam que a geopoética pode ser um valioso recurso para pesquisadores e gestores, auxiliando na implementação de políticas públicas mais cuidadosas com o meio ambiente, com o espaço urbano e com a preservação da memória, incluindo a recuperação dos centros históricos e a valorização da beleza de viver sob a perspectiva geopoética.
Para Poulet, as questões ecológicas que estão no centro da COP30 são o cerne da geopoética. “A geopoética quer, ao mesmo tempo que cria um mundo viável para os humanos, abrir direitos a outros seres vivos, não humanos, e encontrar algo harmonioso, sem nos sacrificar como espécie. Penso que é necessário abandonar certas coisas, por exemplo, a nossa pretensão de acreditar que somos superiores em direito”, reforça.
Em sua fala, durante o Seminário realizado na Aliança Francesa, Poulet trouxe provocações aos humanos, à forma que adotamos para representar o mundo e interagir com a natureza e os demais seres. “Que eles concordem em recorrer a outras formas de pensar e de ser, que não são necessariamente humanas.”, desafiou.
Nessa perspectiva de descentramento do mundo da perspectiva única de humano masculino, a geopoética inclui entre os seus temas a luta pela emancipação das mulheres. “As várias dominações devem ser desconstruídas para ver como podemos viver uns com os outros, de uma forma respeitosa e com uma vida mais agradável para todos. Não é uma vida num mundo de fantasia ou a promessa de um futuro maravilhoso. Trata-se de melhorar as coisas na vida de todos agora. Portanto, é um grande desafio.”, ressaltou Régis Poulet.
Escute o depoimento do professor Régis Poulet (em francês):
“O Seminário é fundamental para ampliar a conexão entre a universidade, seus pesquisadores e os Institutos Internacionais de Geopoética, tanto no Brasil quanto na França”, contou Lirandina Gomes, coordenadora do Grupo de Pesquisa Geopoética da UNEB.

Ela ressaltou a grande relevância de inserir a universidade em um contexto internacional de instituições dedicadas à geopoética, um movimento originado na França, com a proposição de Kenneth White, que propõe uma renovada perspectiva sobre o mundo e a UNEB é precursora nesse campo de pesquisa, no contexto brasileiro.
A diretora da Cátedra Fidelino de Figueiredo da UNEB, uma das anfitriãs do evento, professora Rita Aparecida Coelho, do curso de Letras com Língua Portuguesa e Literaturas, no Departamento de Ciências Humanas (DCH-I), entende a Geopoética como “uma forma de habitar o mundo de maneira mais consciente, poética e, consequentemente, ética e estética”, declarou.
Como meio de apreensão poética do mundo, ela desempenha um papel central na literatura, campo de pesquisa da professora Rita Aparecida. “A geopoética incentiva a vivência poética do mundo, oferece uma oportunidade de reconexão com nossa essência humana.”, complementa Rita.
Parceria entre a UNEB e a Aliança Francesa
Para a diretora da Aliança Francesa, Sandrine dos Santos, “a parceria com a UNEB é fundamental porque é a convergência entre a pesquisa acadêmica com o universo da educação artística e linguística. Essa colaboração reforça o papel da Aliança Francesa como espaço de intercâmbio entre saberes, culturas e práticas criativas, valorizando a dimensão transdisciplinar da geopoética.” , afirma Sandrine.
Essa parceria tornou-se possível graças ao envolvimento da assessora de Cultura da UNEB, professora Nelma Aronia, aluna de Língua Francesa da Aliança, engajada nessa área ao lado de Lirandina Gomes. “Nelma reforçou o caráter de articulação e cooperação que a Aliança Francesa mantém com outras instituições, e expressa de forma exemplar o espírito de iniciativa e pertencimento que buscamos cultivar”, contou Sandrine dos Santos.
“Foi muito oportuno acolher não apenas o seminário, mas também a exposição transmatéria, de Dominique Rousseau, que se vale de elementos naturais — colhidos em Belém — para a criação de obras de grande sensibilidade e impacto. Permite refletir sobre como podemos utilizar os recursos naturais sem exauri-los, ou ainda, como podemos nos adaptar às potências e possibilidades oferecidas pelo ambiente local.”, declarou Sandrine dos Santos.
Durante o seminário, houve lançamento do livro Magna Carta (Editora Pontes) uma abordagem artística, ecológica, filosófica e política do mundo Geopoético. Com autoria de Dominique Rousseau e Kenneth White e tradução de profa. Camila Sant’ Anna do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da UNB, Dominique Rousseau e Régis Poulet. resultado de uma parceria profícua entre o grupo de pesquisa em Geopoética da UNEB e o Instituto Internacional de Geopoética.
Informações: @gp.geopoetica (IG).
Texto: Marcus Gomes/Ascom; edição: Scheilla Gumes/Ascom. Fotos: divulgação.


