
Na proximidade das manifestações do Dia da Independência do Brasil, quando o país vivencia ambiente de acirrada disputada ideológica, com ameaças internas e externas às instituições e valores republicanos, a UNEB trouxe importantes reflexões sobre o tema “Democracia e soberania: a universidade pública na conjuntura política“, durante a Semana de Integração 2025.2.
Em conferências e debates com a comunidade acadêmica, realizados nos últimos dias 25 e 27, nos campi de Brumado, Camaçari, Alagoinhas e Salvador, transmitidos ao vivo pelo canal da TV UNEB no YouTube, foram abordadas questões como autonomia e democracia universitárias, consolidação e ampliação de ações afirmativas e de políticas de inclusão, diversidade e justiça social, os desafios da ciência e da academia no enfrentamento ao negacionismo e na resistência a forças reacionárias e conservadoras, no Brasil e outros países.
Abaixo, alguns trechos das falas dos conferencistas.
Maria das Graças Leal, docente da UNEB:

– Essa temática da democracia e soberania é urgente e necessária, está presente na nossa vida atual e abrange o mundo e o Brasil. Vivemos a ameaça permanente de rupturas democráticas e os avanços da extrema direita, que intenta o regresso às formas tirânicas de governar o mundo.
– A UNEB está garantindo a produção de ciência no ambiente democrático e inclusivo da universidade pública.
– Esse é um perfil de universidade que tem afirmado a defesa dos direitos humanos, civis, políticos, educacionais e acadêmicos, defesa da democracia ampla e irrestrita, democracia social, racial, econômica, política e cultural. Uma democracia plena.
– O mundo está tensionado entre as formas de governo democráticas e multilaterais e as formas imperialistas e despóticas que se apresentam nas disputas ideológicas.
– Precisamos enfatizar a historicidade da soberania da nação brasileira. Fomos, por mais de 300 anos, colônia de Portugal. Fomos uma colônia europeia e isso repercute até os dias de hoje. A imposição de uma cultura europeia formou a estrutura eurocêntrica, de dominação do branco sobre o negro e o indígena, do rico sobre o pobre, da manipulação político-institucional e no modo de pensar e produzir conhecimento,
– Hoje estamos discutindo decolonialidade, quer dizer, é um movimento importantíssimo para entendermos o que nós somos, que temos uma identidade, temos uma história e a construímos a duras penas.
– A inequívoca presença e persistência de princípios e valores coloniais mantém o Brasil eternamente em luta pela independência até os dias atuais.
– A universidade pública é um território de combate a todas as formas de opressão e de retrocesso.

Daniel Fernandes da Silva, professor da UNEB:
– Quando a gente pensa em democracia e soberania, são temas muito sensíveis na história brasileira, dizem bastante sobre um passado presente colonial, escravista. E, se a estrutura política da colônia vai embora, fica a colonialidade, fica o gosto amargo das estruturas da colonização.
– Estamos vendo hoje atentados contra a estrutura do Estado democrático de direito, em especial as tentativas de sabotagem do sistema eleitoral brasileiro, de fechamento das instituições, como o que ocorreu no 8 de Janeiro, e as chantagens e ameaças internacionais ao funcionamento das instituições brasileiras e outros tantos fatos.
– A democracia, na modernidade ocidental, é preenchida por uma série de valores importantes, como igualdade política, liberdade de escolha e oposição a regimes autocráticos e autoritários.
– Democracia liberal também é construída, também é elaborada por setores progressistas, ou seja, essa crise também é uma demanda por mais democracia, e não por menos democracia, como querem os movimentos autoritários.
– A adoção de políticas afirmativas como produção de horizontes sociais de esperança são tentativas de reconstruir o que os séculos de brutalidade racial destruíam.
– Outras dimensões da soberania, como a soberania popular, a energética, a alimentar, também vão ruindo quando a soberania do país é fragilizada, quando o próprio regime democrático é fragilizado.
– Não há ciência ou qualquer outra forma de saber neutra. Instituições democráticas de ensino, como deve ser a universidade pública, precisam se entender como espaços que não somente leem o mundo, mas que formam agentes sujeitos que atuam nesse mundo, ou seja, que formam sujeitos políticos, que produzem, que formam a sociedade.
Georgina Gonçalves dos Santos, reitora da UFRB:

– A instituição universitária tem um compromisso com a memória. Esta é uma instituição que não pode esquecer. É um compromisso com a cultura, um compromisso com o belo, um compromisso com a vida, mas um compromisso com o não esquecer.
– Quando eu cheguei na universidade [na UCSal], na década de 1980, nós éramos 12 negros na comunidade universitária. Hoje, nós somos 50% dessa comunidade. Naquela época não havia dirigentes mulheres, hoje nós temos uma participação importante.
– Temos que discutir o papel político que a universidade pública tem na atual conjuntura. Apesar de podermos dizer “que bom que temos mais mulheres, que bom que temos mais negros, que bom que temos mais jovens de camadas populares ocupando a universidade”, neste momento, paradoxalmente, essa instituição está sendo atacada em nível internacional.
– Acabar com as políticas afirmativas e inclusivas, como quer a extrema direita, põe em risco a nossa presença na universidade, impediria toda essa nossa comunidade de viver a experiência universitária e poder contribuir para um projeto de nação diferente, um projeto civilizatório diferente.
– Vivemos num país em que temos muito pouco direito lá fora, fora da universidade. A gente tem muito pouca segurança lá fora, a gente tem muito pouco espaço de palavra lá fora. E aqui, na vida universitária, é diferente, conquistamos direitos. A gente tem uma universidade de trabalhadores, de negros, de meninas, de população trans, de ciganos, de quilombolas.
– Temos hoje esta instituição universitária diversa que, se vocês pensarem, é um projeto de nação, é um ensaio de direitos o que a gente está realizando aqui. E é responsabilidade de vocês, que estão chegando agora, construírem essa nação também fora dos muros da universidade.
– O que estamos propondo para este país neste momento é que a elite seja outra, que a elite cuide de educação. Nós queremos ser elite, nós queremos ser poder. E nós teremos poder através do conhecimento, através da mobilização.
– Precisamos defender a instituição universitária tal como ela é, tal como ela vem sendo, fazer com que ela avance, empurrar, provocá-la para que ela avance. É tarefa da calourada voltar para as ruas, para suas comunidades, para defender a universidade pública democrática.

Rita Maria Santos, professora da UNEB:
– Precisamos participar dos processos eletivos, já que o nosso modelo é representativo, seja do país, seja aqui da universidade. Porque precisamos fazer valer a nossa universidade pública, gratuita e inclusiva.
– Quando entrei na universidade [na Ufba], eu era a única preta da minha turma. Hoje a cor da UNEB é a cor da Bahia.
– Não vamos enfrentar o passado escravocrata, que não acabou, sozinhos, não vamos conseguir. Precisamos dos aliados, daqueles que não concordam com uma sociedade desigual, que se juntem a nós. Nossa ideia é de inclusão.
– Vamos fazer uma ciência inclusiva, participativa, comprometida, séria, e dar continuidade ao que está dando certo. Construir a democracia, construir a soberania, aprofundar a dinâmica de inclusão, investir cada vez mais no pensamento critico.
– Quero convidar todos vocês para caminharmos juntos nessa tarefa de fazer valer a democracia, de fazer valer a afirmação da soberania, dando continuidade a essa tarefa gloriosa de uma universidade pública, gratuita e inclusiva.
Uirá Menezes de Azevedo, docente da UNEB:

– Defendo a universidade como lócus de soberana e democracia. Democracia é indissociável de diversidade, democracia é resistência à homogeneização, é a aceitação da diferença, da pluralidade. A democracia está fundada no livre exercício do pensamento critico, na disputa pública de razões e na administração dos nossos dissensos.
– A universidade é um lugar que precisa ser construído e reconstruído, de comunicação desimpedida, de pluralidade de vozes e de respeito às diferenças.
– Se existe uma função para a universidade é fazer com que possamos ser transgressores. As universidades serão sempre contra qualquer tentativa de inclinação totalitária.
– Essa concepção de universidade plural, democrática e soberana tem uma vocação grande para resistir a intentos totalitários e anti-intelectuais. Todos os movimentos autoritários têm a universidade como inimigo público número um.
– Soberania deve ser entendida como autonomia institucional, mas que não significa em nada isolamento. Devemos afirmar a liberdade de cátedra, a liberdade de pensamento critico. Viva a universidade democrática e soberana! Viva a UNEB!
Texto e edição: Toni Vasconcelos/Ascom.
Fotos: prints TV UNEB. Imagem: Ascom.









































































































