Tag Archives: Utinga

UNEB faz HISTÓRIA: Conselho Universitário vai a território indígena para entrega de título Doutor Honoris Causa ao Cacique Payayá

44 conselheiros do Consu e convidados foram recebidos pela comunidade Payayá para sessão solene.

“Somente uma universidade pública poderia fazer uma homenagem como esta. Viva a universidade pública, cuja mãe é o povo! Salve a UNEB, a universidade do povo!”

Foi com essas palavras que o escritor e professor Juvenal Teodoro da Silva – reconhecido na Bahia e no país como o líder indígena Cacique Juvenal Payayá –, manifestou, visivelmente emocionado, sua gratidão ao receber o título de Doutor Honoris Causa da UNEB.

A solenidade foi mais um marco histórico da universidade: pela primeira vez, o Conselho Universitário (Consu) da UNEB deslocou-se até o território indígena Payayá, no município de Utinga, região baiana da Chapada Diamantina, para a entrega da mais alta honraria acadêmica ao cacique, em festiva cerimônia realizada na manhã de hoje (16), com transmissão ao vivo pelo canal da TV UNEB no Youtube.

Reitora Adriana Marmori: diálogo muito forte com os povos indígenas.

“Este é um Consu histórico e memorável! O dia em que o cacique, poeta, ativista dos direitos dos povos indígenas e difusor de conhecimento para as novas gerações foi condecorado e homenageado com a maior honraria da universidade, entregue em seu território e diante de sua comunidade. Agradeço a aprovação unânime do Conselho e peço aos conselheiros que, em gesto simbólico, tirem a borla da cabeça – borla na academia significa conhecimento e aqui, neste espaço, a gente se rende ao conhecimento dos povos originários”, iniciou sua fala a reitora Adriana Marmori, que presidiu a solenidade.

A reitora salientou que a Bahia possui a segunda maior população indígena do país: “E isso se deve à herança ancestral dos povos indígenas e dos povos negros africanos trazidos compulsoriamente para o Brasil. Por isso, nós estamos aqui, a UNEB está aqui, porque ela já nasceu interiorizada, capilarizada, enraizada em todos os territórios do estado – e assim nossa universidade se articula com saberes que transbordam respeito, criatividade e compartilhamento”.

“Temos um diálogo muito forte com os povos indígenas. Neste ano a UNEB passou a ter 32 departamentos, porque criamos o pioneiro Departamento dos Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Camponesas, no município de Jeremoabo. Nossos registros apontam 495 egressos indígenas de cursos de graduação e de pós-graduação; e atualmente são 528 indígenas matriculados em diferentes cursos e campi da universidade. É um universo significativo, mas ainda é pouco. Criamos uma bolsa-auxílio exclusiva para estudantes indígenas, para contribuir com sua permanência nos cursos. Precisamos de mais, mais bolsas, mais indígenas“, disse Adriana Marmori.

Gestores da UNEB e do governo estadual celebram com homenageado.

Reconhecendo o talento literário do laureado, a reitora citou trecho de uma das obras de Juvenal Payayá – “Hoje os Payayá engrossam o quadro dos apelidados de índios dispersos, índios urbanos, índios desaldeados, índios não puros, impuros, sem nada, sem direito a ser o que são; apesar desse preconceito, nós, os Payayá, nunca desistiremos: lutamos reunindo foças e recursos inexistentes, em busca de identificar os poucos Payayá que certamente restaram do grande massacre” – e completou: “Precisamos ter um outro olhar, um olhar para o triste caminho do genocídio indígena. E assim eu conclamo a UNEB, o nosso Conselho, toda a  comunidade baiana, a continuar se firmando como espaço de produção de ciências, se somando às lutas históricas das comunidades indígenas, fazendo ecoar essas denúncias”, destacou Adriana Marmori.

Como lembrança do momento histórico, a reitora pediu para distribuir a todos os presentes o livro “Em busca do mapa da verdade“, de autoria do cacique, impresso pela universidade.

Estamos aqui para ajudar a salvar a terra

Com lágrimas nos olhos, Juvenal Payayá agradeceu à comunidade da UNEB pelo título que lhe foi outorgado, em especial à reitora Adriana Marmori, “uma mulher sábia, que considero da minha família”.

O cacique salientou também que “o povo Payayá não é apenas um povo que quer seu território para sobrevivência: estamos aqui para ajudar a salvar a terra, a salvar o rio, lutamos para preservar a vida. Plantamos aqui mais de 50 mil mudas de plantas nativas”.

Cacique Juvenal Payayá: “Salve a UNEB, a universidade do povo!”

“Meu agradecimento de coração por esta oportunidade, por tudo o que a UNEB fez e faz para nossos povos. Receber um titulo deste é poder ocupar um espaço de fala como este aqui. A liderança é uma das coisas mais importantes para nossos povos. Nunca esqueci dos ensinamentos dos nossos pais, avós e antepassados; obedecer aos mais velhos e à natureza, saber se guiar pelas melhores orientações – isso me fez chegar até aqui. Ainda criança descobri que, sem educação, a gente não vai para lugar nenhum“, afirmou o novo doutor honoris causa da UNEB.

Segundo Juvenal Payayá, “é necessário que se refaça a história dos povos ditos extintos, que se reconstrua o mapa desses povos. Nossa gratidão aos caciques que me antecederam e que nos encaminharam a não desistir dessa luta”.

Esposa do cacique, Edilene Payayá é coautora de obras com o marido.

Escritor, poeta, desenhista, ativista, professor, palestrante, entre outras atividades, Juvenal Teodoro da Silva, nasceu em uma aldeia na Chapada Diamantina, em 1945. Estudou História, na Universidade de São Paulo (USP), e Economia, na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). É membro da Red Latinoamericana por la Defensa del Patrimonio Biocultural e membro fundador dos movimentos Associativo Indígena Payayá (Maip) e Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba). Foi membro também dos conselhos estaduais de Educação da Bahia (CEE-BA) e dos Direitos dos Povos Indígenas do Estado (Copiba). É autor de mais de uma dezena de livros publicados, entre romances, contos, crônicas e poesia, alguns em coautoria com sua esposa, Edilene Payayá.

Esse é o décimo título de Doutor Honoris Causa concedido pela UNEB e o segundo outorgado pela instituição a uma liderança indígena – em 2021, Rosivaldo Ferreira da Silva, Cacique Babau Tupinambá, foi agraciado com a honraria.

Governador: reserva indígena do povo Payayá  

A mesa solene da cerimônia foi composta pela reitora Adriana Marmori, a vice-reitora Dayse Lago, a superintendente de Politicas para Povos Indígenas (SPPI), da Secretaria estadual da Promoção de Igualdade Racial (Sepromi), Patrícia Pataxó – que representou o governador do estado, Jerônimo Rodrigues –, o reitor da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), Jacques Miranda, representando os demais reitores presentes, a técnica administrativa da UNEB Ana Cleide Payayá, madrinha do homenageado, e os conselheiros (Consu) representantes das categorias docente, Clóvis Piau, técnico administrativo, Adaltiva Xavier, e discente, Eduardo Guerra.

Patrícia Pataxó representou o governador do estado na sessão.

Em mensagem de vídeo enviada ao evento, o governador Jerônimo Rodrigues parabenizou a reitora Adriana Marmori, os conselheiros do Conselho Universitário e toda a comunidade acadêmica, pelo “reconhecimento muito justo ao Cacique Juvenal Payayá“, desejando ao líder indígena que “os encantados protejam seus caminhos”.

Coube à representante do governador no evento, Patrícia Pataxó, informar ao laureado que o governo do estado autorizou a abertura de processo para doação daquele território à União (governo federal), a fim de que seja criada a reserva indígena do povo Payayá. “Não existem povos indígenas sem territórios indígenas”, reforçou a superintendente.    

“Magnífica reitora, hoje é dia sobretudo de gratidão, estar aqui é uma missão para mim. Nosso agradecimento muito especial à UNEB, por todo o esforço de trazer a universidade aos povos indígenas. O Brasil é plural e nossas universidades públicas são territórios indígenas também”, assinalou Patrícia Pataxó.

Proponente do título, Ana Cleide Payayá é técnica administrativa da universidade.

Proponente do título ao Cacique Payayá quando era membro do Consu – proposta que foi aprovada por unanimidade em junho de 2023, sendo publicada como Resolução 1.576/2023 –, a servidora técnica da UNEB Ana Cleide Payayá recordou, no seu discurso panegírico, a dedicação e etapas superadas até o encaminhamento do processo no Conselho Universitário.

“Em minha pesquisa de doutoramento, estudei sobre a longa trajetória de luta do cacique. Também desenvolvi um projeto de extensão universitária com a comunidade Payayá. E culminou com o meu reconhecimento por essa etnia indígena. Tudo isso foi consolidando a ideia de propor o título ao Conselho. Espero que esse honraria traga mais força e vitalidade ao Cacique Juvenal“, assinalou a madrinha do homenageado.

A cerimônia, em clima de alegre confraternização, foi prestigiada pela comunidade acadêmica e gestores da UNEB, indígenas do território Payayá e caciques de outras etnias, políticos e autoridades da região e de outros órgãos do estado, reitores e gestores de outras universidades e instituições de ensino públicas, entre outros convidados.

No começo da sessão, foi exibido vídeo-documentário sobre a vida e luta do Cacique Juvenal Payayá, produzido pela Assessoria de Comunicação (Ascom) da UNEB. Vale ainda registrar que, antes da solenidade e no seu encerramento, a comunidade Payayá apresentou danças e músicas rituais da etnia.

Texto: Toni Vasconcelos/Ascom. Fotos: Danilo Oliveira/Ascom.

UNEB concede título Doutor Honoris Causa ao Cacique Juvenal Payayá nesta sexta (16); solenidade será realizada no território indígena, em Utinga

A UNEB vai realizar a cerimônia de outorga do título de Doutor Honoris Causa ao líder indígena Juvenal Teodoro da Silva, o Cacique Juvenal Payayá, nesta sexta-feira (16), às 10h, no Território Indígena Payayá (BA 142, Estrada Cabeceira do Rio/Utinga, S/N – Cabeceira do Rio – Utinga – BA.)

É a primeira vez que uma instituição brasileira realiza a cerimônia de concessão do título a uma liderança indígena em seu próprio território.

A solenidade acontecerá em sessão do Conselho Universitário (Consu) e será presidida pela reitora Adriana Marmori, com a participação de todos os membros do conselho. Entre os convidados estão caciques e lideranças indígenas como o ambientalista Ailton Krenak.

“A outorga dessa honraria ao Cacique Juvenal Payayá fortalece o movimento de descolonização de saberes defendido por esta universidade. Um movimento de valorização dos nossos povos originários e de reconhecimento da importância científico-cultural dos conhecimentos tradicionais, refletindo e reivindicando a capacidade da academia de re-interrogar a relação ser humano-natureza que nos inspira desde sempre”, destacou a reitora.

A concessão do título ao Cacique Juvenal Payayá foi aprovada em junho de 2023 por docentes, técnicos e discentes, membros do Consu da universidade. Para organização da solenidade foi criada uma comissão composta pelo Gabinete da Reitoria, gestores da Universidade, movimentos indígenas e por familiares do homenageado.

O evento é reservado para convidados, mas pode ser acompanhado ao vivo, no canal da TV UNEB, no YouTube.

Indicação da honraria

O título de Doutor Honoris Causa da UNEB é conferido a professores, cientistas, educadores e personagens eminentes, nacionais ou estrangeiros, não pertencentes ao quadro da universidade, que tenham prestado serviços relevantes ao ensino, à pesquisa, às letras ou às artes.

Já foram agraciados com a maior honraria da universidade o então presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, o dramaturgo e ativista político, Abdias do Nascimento, e o historiador e escritor baiano, Luís Henrique Tavares. Também receberam o título a líder religiosa, Mãe Stella de Oxóssi, o educador e primeiro reitor da universidade, Edivaldo Boaventura, e o líder indígena Cacique Babau Tupinambá.

Líder indígena, escritor e professor

Nascido na Chapada Diamantina, berço de grandes escritores, Juvenal Teodoro da Silva, conhecido como Cacique Payayá, é um importante líder indígena e também professor, tendo já escrito mais de 12 livros e ensinado em diversas escolas públicas e universidades.

Ocupou parte de sua vida em busca das raízes históricas do povo Payayá, até então considerado extinto pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Sempre em defesa dos direitos dos povos e organizações indígenas, Juvenal Payayá, foi aluno do curso de História, na Universidade de São Paulo (USP), e do curso de Economia, na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Já participou dos conselhos de estado em defesa da pessoa idosa, povos indígenas e da Educação.

O líder indígena é membro da Red Latinoamericana por la Defensa del Patrimonio Biocultural e membro fundador dos Movimentos Associativos Indígena Payayá – (Maip) e dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba).

Texto: Danilo Cordeiro/Ascom. Imagem (destaque): Ascom