UNEB é primeira universidade da AL a aderir à Declaração de Jena, para sustentabilidade global

Termo de adesão foi firmado em evento com presença de povos originários e comunidade acadêmica

A UNEB é a primeira universidade da América Latina a aderir à Declaração de Jena (The Jena Declaration, TJD), documento internacional apoiado pela Unesco que propõe integrar as humanidades ao debate global sobre sustentabilidade e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

O Termo de Adesão da UNEB foi assinado, na tarde de ontem (22), no Teatro UNEB, Campus I, em Salvador, pela reitora Adriana Marmori, o representante da Unesco, Tiago Pinto, o diretor do Departamento de Ciências Humanas (DCH) do campus, Flávio Dias, e o coordenador do 1º Congresso Internacional de Humanidades e Sustent(h)abilidades da universidade, Elizeu da Cruz, evento vinculado ao DCH que está sendo realizado nesta semana.

A solenidade de assinatura integrou a ampla programação do Humanidades e Sustent(h)abilidades – mais especificamente durante a mesa temática “A UNEB no horizonte das humanidades e da sustentabilidade pública“, da qual participaram a reitora Adriana Marmori e o diretor Flávio Dias, com mediação da docente do departamento Naira Moura.

Reitora Adriana Marmori: compromisso com o presente e as gerações futuras

“Hoje a UNEB vivencia um momento significativo. Somos a primeira universidade da América Latina assinar a Declaração de Jena, reiterando e fortalecendo nosso compromisso institucional com a sustentabilidade e com a preservação da vida, impulsionados por nossa expertise e pela diversidade e capilaridade dos nossos campi. Esse é um ato que reforça o papel das humanidades na construção de um futuro mais equilibrado e sustentável”, destacou Adriana Marmori.

A reitora ressaltou ainda que o documento representa “um chamado à ação para toda a comunidade acadêmica, que deve se engajar em projetos e programas voltados para as humanidades e para a sustentabilidade ambiental”. “A UNEB se une a um movimento global que entende que a sustentabilidade não é apenas um conceito técnico, mas uma vivência cultural e ética. É um compromisso com o presente e com as gerações futuras”, completou Adriana Marmori.

Titular da Cátedra Unesco de Estudos Transculturais de Música, da Universidade de Música Franz Liszt Weimar (Alemanha), Tiago Pinto, salientou a afinidade da universidade com os princípios defendidos na Declaração de Jena: “A UNEB é predestinada a esse documento, porque planeja e cria cursos, programas e projetos que convergem com a proposta da declaração. É uma universidade que valoriza a integração das humanidades e da sustentabilidade”.

Tiago Pinto, representante da Unesco: afinidade da UNEB com documento

Segundo Tiago Pinto, a adesão à Declaração de Jena permitirá à UNEB interagir diretamente com outras universidades globalmente, compartilhando projetos e iniciativas em consonância com os objetivos do documento.

The Jena Declaration (TJD) surgiu na Universidade Friedrich Schiller, na cidade de Jena, na Alemanha, e é atualmente endossada por mais de 200 instituições em todo o mundo. O texto defende que as soluções para os desafios ambientais não podem depender apenas das ciências exatas, mas devem incluir o olhar das humanidades e ciências sociais, valorizando as práticas culturais e o engajamento das comunidades.

“A ideia central do documento é promover uma abordagem mais horizontal e participativa na implementação de medidas de proteção ambiental e sustentabilidade, ajudando a construir políticas mais humanas, inclusivas e efetivas”, disse o representante da Unesco.

Em atividade anterior do evento, Tiago Pinto proferiu a conferência “O impacto da Unesco nos estudos de história do patrimônio vivo: diversidade cultural e sustentabilidade“.

A cerimônia de assinatura foi seguida pela “Festa da União dos Povos“, marcada por apresentações musicais e danças tradicionais, simbolizando a convergência entre cultura, natureza e humanidade.

Saberes dos povos originários

Ainda na diversificada programação do evento Humanidades e Sustent(h)abilidades 2025, em outra mesa temática foi apresentado o tema “Saúde, territórios e saberes originários“, também no Teatro UNEB, na tarde do dia 20, com a participação de convidados do Chile para discutir a integração entre o conhecimento acadêmico e os saberes tradicionais.

Pesquisadora Patrícia Krinsi: ciência do povo indígena cravada no sagrado

A mesa foi iniciada pela médica mapuche e terapeuta ancestral, Lawentuchefe Espinoza, da comunidade Huitaquim Pulu (Chile), e pela médica Silvia Gómez, da comunidade São José de Mapio (Chile), que é diretora da área de saúde da corporação municipal de seu território.

As convidadas destacaram a importância da medicina tradicional e da harmonia entre seres humanos e natureza. “A saúde dos nossos povos está ligada ao equilíbrio com o planeta. Quando a terra adoece, nós adoecemos juntos“, afirmou Silvia Gómez.

Outras duas participantes dessa mesa foram as pesquisadoras Patrícia Krinsi, do povo indígena pankararé, professora e pesquisadora no Opará – Centro de Pesquisas em Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação, do campus da UNEB em Jeremoabo, e Débora Santos, egressa da universidade, integrante de comunidade de fundo de pasto na região de Canudos.

“A ciência do povo indígena é cravada no sagrado. Acreditamos que nossos grandes livros e nossas melhores memórias estão nos antepassados e nos encantados, que caminham ao nosso lado. São eles que nos dão direção e força para seguir”, contou Patrícia Krinsi, enfatizando que o conhecimento indígena é profundamente espiritual e relacional.

Débora Santos, egressa da universidade: viver solidário e alegre na comunidade

Débora Santos compartilhou lembranças de sua comunidade e das práticas coletivas que estruturam o modo de vida no sertão. “Na comunidade de fundo de pasto, tudo é feito em conjunto. Quando alguém precisa colher o milho, por exemplo, todos ajudam. É uma forma de viver solidária e alegre, em que o trabalho e o cuidado com o outro caminham juntos”, relatou.

A mesa foi mediada pela docente Márcea Sales, do Departamento de Educação (DEDC) do campus, que destacou a urgência de fortalecer os vínculos entre os saberes tradicionais e a ciência moderna. “Diante da crise socioambiental contemporânea, somos desafiados a repensar nossas práticas de forma coletiva. Precisamos compartilhar conhecimentos, produzidos nas universidades ou nas comunidades ancestrais, porque ambos são cruciais para a preservação da vida em nosso planeta”, avaliou.

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Texto: Marcus Gomes/Ascom. Fotos: Danilo Oliveira/Ascom e Ingrid Oliveira/Ascom.