Educar para resistir: Eunápolis e Aldeia Boca da Mata recebem 2º edição do Diálogos Pedagógicos UPT UNEB

Auê dos Povos Indígenas Pataxó da Aldeia Boca da Mata. Fotos: Cindi Rios/Ascom

A emoção e alegria do AUÊ dos Índios Pataxós da Aldeia Boca da Mata, em Porto Seguro, abriram as atividades do evento Diálogos Pedagógicos UPT UNEB – Orgulho em transformar vidas: construindo uma universidade pintada de povo, que aconteceu nos dias 20 e 21 de novembro, em Eunápolis.

A iniciativa teve como objetivo promover debates e reflexões sobre as ações desenvolvidas pelo projeto Universidade para Todos (UPT) durante o ano vigente.

O evento promoveu debates e reflexões sobre as ações desenvolvidas pelo UPT em 2019

A professora Simone Wanderley, coordenadora geral do UPT UNEB, presidiu a mesa de abertura do evento. A gestora destacou que os bons resultados alcançados se justificam pela dedicação e entusiasmo da equipe, e pela parceria entre as quatro universidades estaduais baianas, executoras do projeto.

“Temos perfis diferentes, estamos em localidades diferentes, mas nossos objetivos são os mesmos. No UPT, somos todos elos de uma mesma corrente. É o trabalho conjunto que constrói as bases e desenvolve as ações desse projeto tão importante para o nosso povo”, frisou a coordenadora.

Para Patrícia Machado, coordenadora geral do UPT, na Secretaria estadual da Educação (SEC), existe a necessidade de trabalharmos no sentido de ampliar o projeto, transformando-o em uma política pública de acesso ao Ensino Superior.

“A jornada e história do UPT é de superação, de vencer desafios. Este é um projeto lindo, que abre caminhos, cria oportunidades, alimenta sonhos e, por isso, transforma a vidas. Esse momento de imersão e vivência nas comunidades nos permite acessar depoimentos sobre trajetórias, expectativas e mudanças impactantes, que nos enchem de alegria e que também nos permite refletir sobre a ampliação de nosso escopo de ação”, disse Patrícia Machado.

Troca e aprendizado mútuo

A roda de conversa contou com a participação de gestores, coordenadores, professores, monitores e alunos UPT UNEB, que relataram suas vivências e experiências com o projeto. A professora Rozineide Carneiro, que coordena o polo do Sistema Prisional de Teixeira de Freitas, emocionou o público com sua história de luta e resistência a favor da educação prisional e ressaltou o papel do UPT nesse contexto.

Cláudia e Raul contaram suas histórias com alegria e entusiasmo.

“Sempre nos perguntam porque damos aula em um presídio. E eu sempre respondo: Estamos lá porque tem gente nesse espaço. São pessoas com os mesmos direitos humanos que todos nós. A prisão é do lado de fora. Dentro de nós somos livres, porque temos a liberdade de pensamento, e isso precisa ser valorizado e estimulado. Acreditar no ser humano é a base, a essência da vida”, pontuou Rozineide.

E quando a troca acontece dentro da mesma família? Quando mãe e filho decidem, juntos, ingressar em uma universidade? Essa é a história de Cláudia e Raul Oliveira, que, hoje, sonham o mesmo sonho, e lutam lado a lado para realizá-lo: “Voltar a estudar, buscando um diploma universitário parecia um sonho distante. Esse era um projeto pessoal que deixei adormecer dentro de mim. Mas, agora, com o apoio do UPT e a ajuda incondicional do meu filho, estou a um passo de alcançar esse meu objetivo de vida”, relatou Cláudia.

Educação Indígena

 

Atualmente, existem em Porto Seguro 18 escolas indígenas, com aproximadamente, 31 mil estudantes. Para Rosimar Paraxó, diretor de Educação Escolar Indígena de Porto Seguro, o UPT representa a chance de dar continuidade ao que desenvolvemos com nossos jovens estudantes. “É a possibilidade de ir além, de sonhar, de transformar. A educação é o caminho para a transformação e os jovens são o nosso futuro”, ressaltou.

Suyhê destacou a necessidade de investir na permanência dos indígenas nas universidades

Suyhê Pataxó, monitora UPT UNEB, na Aldeia Boca da Mata, trouxe para a roda de diálogos uma importante questão: a permanência dos indígenas nas universidades.

“Estamos ganhando espaço nas universidades, mas, para além do acesso, precisamos dar uma atenção especial para a permanência. O UPT está em nossa aldeia desde 2017. De lá para cá, 20 estudantes conseguiram aprovação em vestibulares. Porém, apenas seis estão conseguindo cursar porque as dificuldades de se manter dentro da instituição são muitas, o investimento com moradia, alimentação e despesas pessoais e acadêmicas é alto”, relatou a jovem.

De acordo com Marcius Gomes, superintendente de projetos estratégicos da SEC, o governo do estado já está sensível a esse tema.

“Entendemos a permanência como uma questão prioritária. As quatro estaduais, junto à Secretaria da Educação, já estão estudando medidas e ações para atender essa demanda com celeridade”, afirmou o superintendente.

Vivência na aldeia

Lideranças indígenas, gestores da SEC, coordenadores, colaboradores, professores e estudantes UPT participaram de uma rica roda de diálogos.

A programação do evento contou ainda com um momento de imersão, troca e escuta na Aldeia Boca da Mata, em Porto Seguro. Lideranças indígenas, gestores da SEC, coordenadores, colaboradores, professores e estudantes UPT participaram de uma rica roda de conversa.

Momento de imersão, troca e escuta na Aldeia Boca da Mata

O vice-reitor da UNEB, professor Marcelo Ávila, frisou que “a inserção em comunidades tradicionais está no DNA da UNEB. A nossa presença aqui marca a presença do ensino superior em terras indígenas. Trata-se de um movimento de valorização dos nossos povos originários”, destacou o vice-reitor.

Para Isaac Lou, representante do Fundo de Combate à Pobreza (Funcep), vinculado a Casa Civil do estado, para compreender a diversidade e seus contextos, é necessário sair da zona de conforto e viver realidades outras.

“O UPT atende diversas comunidades tradicionais, como os indígenas e os povos de terreiros, além de LGBTs, pescadores, marisqueiras, e muitas outras representações sociais. Para fazer um bom trabalho é necessário, antes de tudo, acessar essas realidades, vivê-las, entendê-las. A cada ano o UPT UNEB nos surpreende ainda mais, nos mostrando que pode chegar mais longe, aonde poucos chegam”, afirmou Isaac.

O Projeto Universidade para Todos (UPT), criado pelo Governo do Estado da Bahia e coordenado pela Secretaria da Educação (SEC-BA), é executado por meio de uma parceria entre as Universidades Estaduais (UNEB, UEFS, UESB, UESC). Trata-se de uma iniciativa voltada para fortalecer a política de acesso à Educação Superior, direcionada a estudantes concluintes e egressos do ensino médio das redes públicas municipais e estadual.

A UNEB é a maior executora do projeto, sendo responsável por 8.400 vagas, das 11.505 ofertadas pelo projeto, em 2019. Apenas neste ano, inscreveram-se 32.711 estudantes de todo o estado.

Confere mais fotos desse evento no fb @oficialuptuneb.