Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4% da população mundial sofre com a Escoliose Idiopática do Adolescente (EIA). Pouco conhecida, a doença acomete em maior número adolescentes do sexo feminino.
A escoliose é uma curvatura lateral da coluna no plano tridimensional do movimento (esquerda/direita, frente/costas e ao redor do próprio eixo pela rotação de uma vértebra) o que lhe confere a aparência de um C (uma só curvatura) ou de um S (mais de uma curvatura). A deformidade pode ser vista olhando a pessoa de costas.
“Inicialmente a doença não apresenta sintomas e se desenvolve no período do estirão de crescimento da criança. Muitas vezes, a postura ruim e a assimetria dos ombros e quadris são observadas pelos familiares e educadores, sendo diagnosticada através de radiografia. A curvatura da coluna acima de 10 graus já é considerada escoliose”, explicou o especialista em Fisioterapia e professor da UNEB, Paulo Lessa.
É o caso da jovem Ana Carolina Carneiro, 16, que chegou a desenvolver a curvatura de 44 graus da coluna, patamar mais grave da doença. A garota descobriu que tinha a doença aos 12 anos de idade, depois da mãe perceber que havia algo de anormal em sua postura e decidiu levá-la a um especialista em ortopedia.
“Por ela ter o cabelo longo, eu não percebia o problema, mas estranhava quando vestia a blusa e em um dos ombros a roupa ficava caída, além das dores que ela sentia na coluna. Fomos ao ortopedista e através da radiografia, foi detectado o desvio na coluna”, contou Neire Cleia Carneiro, mãe da adolescente, que faz tratamento na Clínica-Escola de Fisioterapia da UNEB, no Campus I da instituição, em Salvador.
Normalmente, a escoliose se desenvolve em meninas na fase da menarca (primeira menstruação). Segundo Paulo Lessa, fatores hormonais, problemas de frouxidão ligamentar e características genéticas e hereditárias podem favorecer maior incidência da escoliose em adolescentes do sexo feminino.
Importância do diagnóstico precoce e tratamento
O diagnóstico da escoliose é realizado através da avaliação clínica de assimetria dos ombros e da pelve, seguida da radiografia panorâmica da coluna do paciente. A imagem serve para analisar o tamanho da curvatura da coluna.
O tamanho do desvio que compreende a faixa até 20 graus carece de tratamento com exercícios fisioterapêuticos, acima de 20 a 45 graus requer o uso de colete ortopédico e exercícios específicos, para a curvatura superior a 45 graus é indicada intervenção cirúrgica.
Segundo Paulo Lessa, a importância do diagnóstico precoce torna-se necessário para o tratamento adequado da escoliose, evitando a gravidade da doença.
“A prevenção se dá pelo diagnóstico precoce, quanto mais rápido identificar a doença, melhor será o tratamento. Uma vez instalada a escoliose, a tendência é se agravar, através de sintomas por dores na coluna e comprometimento de outros órgãos como coração e pulmão. A intenção dos tratamentos da escoliose é fazer com que a curva não progrida”, destacou o fisioterapeuta.
Ainda de acordo com o especialista, é fundamental a promoção de campanhas que possam fazer rastreios nas escolas, serviços de tratamento especifico para escoliose, pois o Sistema Único de Saúde (SUS) não dispõe do tratamento para a doença”, ressaltou o especialista.
Tratamento da escoliose na UNEB
A Clínica-Escola de Fisioterapia, vinculada ao Departamento de Ciências da Vida (DCV) do Campus I da UNEB, realiza tratamento de crianças e adolescentes que são portadores da Escoliose Idiopática do Adolescente (EIA).
A iniciativa é desempenhada pelo projeto Reabilitação Musculoesqueletica, coordenado pelo professor Paulo Lessa. Além do tratamento da escoliose, o projeto oferece atendimento para portadores de disfunções músculoesqueléticas na área da ortopedia, tais como torsões, pós-operatório e serviço de fisioterapia.
“O projeto oferece assistência a patologias musculoesqueleticas, que são uma das maiores causas de incapacidade. Nossa intenção é aproximar a comunidade acadêmica da população e promover a melhora da qualidade de vida”, ressaltou o docente.
Para a estudante do 8º semestre em Fisioterapia do Campus I da UNEB, Cleane Sales, participar do projeto influencia positivamente na sua formação acadêmica e na atuação como futura fisioterapeuta.
“Tenho a oportunidade de ter experiência prática sobre os conteúdos abordados durante a graduação. É o momento que tenho o contato direto com o público, uma forma de devolver para sociedade tudo aquilo que foi investido em minha formação, entretanto, sentir a gratidão dos pacientes é o que mais me motiva”, frisou a discente.
Devido à pandemia da COVID-19, os atendimentos na clínica foram interrompidos. Atualmente, os pacientes já atendidos pelo projeto são acompanhados de forma on-line pelo professor Paulo Lessa e os estudantes de fisioterapia participantes da iniciativa.
O mês de junho foi escolhido com objetivo de criar uma educação positiva sobre a conscientização da Escoliose. A iniciativa é representada pela campanha Junho Verde. A data 27 de junho é marcada como o Dia Internacional da Conscientização sobre a Escoliose.