UNEB lamenta falecimento de Luís Henrique Dias Tavares, Doutor Honoris Causa da universidade

A Universidade do Estado da Bahia lamenta profundamente o falecimento do Doutor Honoris Causa dessa universidade, professor Luís Henrique Dias Tavares, nesta segunda-feira, dia 22 de junho.

O docente Luís Henrique nasceu em 1926, em Nazaré, no recôncavo baiano. Historiador, professor Emérito da Universidade Federal da Bahia e Imortal da Academia de Letras da Bahia, concluiu o curso de Geografia e História, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal da Bahia, em 1951. Posteriormente, titulou-se Doutor em História pela UFBA, concluindo seu pós-doutorado pela Universidade de Londres.

Além de professor, esteve à frente do Departamento de História da UFBA em diversas oportunidades, além de ocupar outros cargos importantes até se aposentar, em 1991.

Dentre as muitas funções públicas que assumiu, cabe destacar o período em que ocupou o cargo de diretor do Arquivo Público do Estado da Bahia, entre os anos de 1959 e 1969, e de diretor do Departamento da Educação Superior e da Cultura da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, entre 1967 e 1969.

É autor de obras de fundamental importância para a historiografia baiana, dentre as quais se destaca “A história da Bahia”, obra que compila dados reunidos ao longo de seis décadas de pesquisa e que segue como obra de referência e de leitura obrigatória para pesquisadores e estudantes de história. Reconhecido defensor da universidade pública e aguerrido na luta contra a opressão do povo, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela UNEB, homenagem que lhe foi concedida em 2009.

 

Nesta ocasião, homenageamos o professor Luís Henrique através das carinhosas e já saudosas palavras da professora e historiadora Maria José de Souza Andrade*, sua ex-aluna, aprendiz e amiga:

A Bahia se despede do prof. Luís Henrique Dias Tavares

O dia 22 de junho de 2020 foi marcado pela partida do professor Luís Henrique Dias Tavares. Ainda que não fosse possível cerimônia de despedida, em virtude da pandemia provocada pelo coronavírus, os baianos lamentaram a perda do professor, historiador, pesquisador, escritor e amigo que deixou enorme vazio nos meios acadêmicos, literários, familiares e de incontáveis ex-alunos que se alimentaram com suas incomparáveis aulas de História do Brasil e da Bahia.

Recordar a trajetória desse professor catedrático de História do Brasil da Universidade Federal da Bahia e posterior emérito, dessa mesma Universidade, membro da Academia de Letras da Bahia, só para citar algumas instituições culturais que ele participava ou comentar sua produção literária e historiográfica, foge o nosso objetivo nessa abordagem, tão superficial, carregada de saudade e emoção.

Aqui desejo registrar a convivência sempre agradável entre esse mestre e seus colegas e ex-alunos de graduação e pós–graduação brasileiros e ou estrangeiros que o procuravam. Recorrendo a sua prodigiosa memória, essas conversas, que muitas vezes, pareciam informais, eram recheadas de saber acadêmico ou mesmo de “lições de vida” que só um ser humano bem informado, sensível, simples como ele, seria capaz de transmitir.

Apesar de ter como marcas de sua personalidade o afeto, a descontração e a cordialidade, sabia, como ninguém, ser árduo defensor de suas ideias, colecionando argumentos para defendê-las com coerência e segurança. Quem não lembra, na Bahia, quiçá no Brasil, de suas defesas em prol das Universidades Federais e estaduais como instituições destinadas ao ensino público e gratuito?  Ou das universidades com cotas para as minorias? Ou pela democratização do ensino público com a extinção de exames de vestibular? Ou ainda, sua luta pela escolha dos representantes da hierarquia universitária com a participação direta dos seus pares no processo eleitoral.

Destaco que historiadores e pesquisadores baianos e brasileiros perderam nessa década (2011-2020) um professor e pesquisador exemplar. Sabia magistralmente, em suas aulas, envolver os alunos em exposições claras repletas de informações precisas e com maestria estabelecia correlações entre a Bahia, o Brasil e o mundo, buscando levá-los a compreender os temas dentro da ampla articulação espacial e temporal.

Além dessas características, esse imensurável mestre, instigava o debate, buscava desenvolver o senso crítico, exigia dos seus alunos a leitura dos clássicos da historiografia brasileira, além de destacar o cotidiano na análise das sociedades.

Como pesquisador, diretor por 10 anos e meio do arquivo público do estado da Bahia (1959-1969) conhecia a grande maioria das séries documentais, não apenas pelos títulos, mas era capaz de revelar os segredos que guardavam os melhores dos documentos ali contidos. Em relação aos arquivos baianos, posso afirmar que ele foi um arquivo vivo, um informante preciso e principalmente um amigo disponível para atender a todos que o procuravam.”

*Maria José de Souza Andrade é graduada em História e professora aposentada da UFBA e da UCSAL.

Universidade do Estado da Bahia