O Laboratório de Arqueologia e Paleontologia (LAP), vinculado ao Departamento de Educação (DEDC), do Campus VII da UNEB, em Senhor do Bonfim, vai realizar pesquisa científica no sítio arqueológico descoberto em uma propriedade agrícola na comunidade Passagem Velha, no município.
Foi encontrado no local uma urna funerária com ossos humanos e utensílios de cerâmica como um vasilhame com opérculos (tampas), pertencente a um grupo humano pré-histórico de tradição ceramista Tupiguarani.
O resgate dos objetos, realizado nos dias 18 e 19 de janeiro, foi coordenado pela arqueóloga e professora da universidade, Cristiana Cerqueira, e enviado para o laboratório da instituição para realização de estudos científicos.
“Fizemos a coleta do material com toda técnica e metodologia necessária para um estudo arqueológico acadêmico. Enviamos o relatório de salvamento e protocolamos no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Já estamos trabalhando no projeto de pesquisa desse material. Nosso objetivo é que o local se transforme num sítio escola voltado para estudos acadêmicos’, explicou a coordenadora.
Ainda de acordo com a professora, o material arqueológico gera “potencial educativo para as escolas e comunidade rural na preservação do patrimônio arqueológico e de salvaguarda do acervo encontrado na região”.
É a primeira vez que é localizado um sítio pré-histórico em Senhor do Bonfim. A coordenadora do resgate acredita que há possibilidade de descoberta de mais material da mesma espécie na localidade.
Para isso, já foi solicitado autorização junto ao Iphan para realização de novas escavações na área, que corresponde ao tamanho de 500 metros de extensão.
Descoberta potencializa percurso formativo discente
Os alunos de Ciências Biológicas, do Campus VII da UNEB, em Senhor do Bonfim, participaram da ação e tiveram momento de aprendizado.
A estudante do oitavo semestre, do Campus VII da universidade, em Senhor do Bonfim, Ana Jéssica Passos, destacou a importância de ter participado do resgate.
“Foi uma experiência única e incrível ter participado de um salvamento arqueológico na nossa região. Já trabalho com estudos em cerâmica na pesquisa de iniciação científica e acredito que isso contará muito para meu aprendizado”, ressaltou a estudante.
Com experiência em estudos arqueológicos em laboratório, o estudante e bolsista de iniciação científica, Anderson Santos, relatou que foi a primeira experiência no trabalho em campo.
“Foi um aprendizado grandioso, era algo que faltava em meu currículo, visto que sempre tive vontade de participar de uma escavação e também consegui entender como todo esse processo funciona”, contou o discente do sétimo semestre.
Além dos estudantes, acadêmicos especializados em arqueologia e empresas especializadas em escavação arqueológica também participaram da iniciativa.
Palestra educativa
Após o resgate dos objetos arqueológicos, será promovida uma palestra educativa com a comunidade e em duas escolas da região.
A ação, obrigatoriamente instituída pelo Iphan, tem a finalidade de apresentar e ressaltar a importância do sítio arqueológico.
“É importante esse trabalho de contato com a comunidade. Passamos e também recebemos informações sobre sítios arqueológicos encontrados. Dessa forma, podemos ter o mapeamento eficiente com a ajuda da população”, frisou a professora Cristiana Cerqueira.
Ainda de acordo com a professora, depois da descoberta do material pré-histórico, moradores de povoados da região relataram que encontraram objetos semelhantes.
Laboratório de Arqueologia e Paleontologia
Com atividades iniciadas em 2001, o Laboratório de Arqueologia e Paleontologia (LAP) do Campus VII da UNEB, em Senhor do Bonfim, tem o objetivo de realizar pesquisa e extensão nas áreas de arqueologia e paleontologia no território baiano.
Sob coordenação da professora Cristiana Cerqueira, o equipamento abriga cerca de 200 mil materiais humanos arqueológicos e fósseis de animais que viveram no período pleistoceno. Os objetos ficam expostos para pesquisa e visitação. .
“Nós temos um acervo arqueológico muito grande, tanto que construímos agora um novo espaço para suportar a quantidade de material que temos de pesquisas produzidas e as que estão em andamento”, explicou a coordenadora.
Aproximadamente 60 pesquisas já foram desenvolvidas pelo laboratório. Dentro os projetos de pesquisa realizados estão o Sambaquis do litoral baiano, desenvolvido em 2004, o projeto estuda sítios costeiros, ocupações antigas do litoral norte da Bahia.
Com atuação no semiárido do estado, o projeto Arqueologia do semiárido baiano é responsável por realizar pesquisas em áreas de cavernas datadas há 9.400 anos antes do presente. O achado arqueológico encontrado em Senhor do Bonfim passou a integrar esse projeto.
No dia 10 de março será inaugurado um novo espaço do laboratório, que passa a contar com seis salas e servirá para as atividades de reserva técnica, análise, curadoria e restauro dos materiais arqueológicos coletados, além de desenvolvimento de pesquisas, atividades de extensão e visitação.