Em iniciativa de resistência e de busca por novos caminhos para a reafirmação da importância das atividades extensionistas, gestores participam da 49ª edição do Encontro do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Ensino Superior da Região Nordeste (Forproex).
O evento teve início ontem (29), com minicurso e palestra promovidos no Convento de Santa Teresa, que fica localizado no Museu de Arte Sacra da Bahia, no Centro Histórico de Salvador.
A abertura institucional do encontro, que tem como tema “A Extensão em Tempos de Crise”, contou com a participação da pró-reitora de Extensão (Proex) da UNEB, Maria Celeste Castro, que representa a instituição na coordenação do Forproex.
“Estamos vivendo uma reconstrução da concepção de extensão universitária. Aqui, pensamos a extensão para além do ponto de vista do financiamento, discutimos também como em tempos de crise podemos reafirmar nossas identidades e fortalecer as nossas relações com os movimentos sociais”, destacou a gestora.
A avaliação foi endossada pela pró-reitora de Extensão da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Lúcia Marisy, que também integra a coordenação do Forproex.
“Temos a responsabilidade e o compromisso de estar em diálogo permanente com o povo. Para colhermos as suas expectativas e observarmos as suas necessidades, porque a universidade que não trabalha junto à população termina sem finalidade, sem cumprir com o seu papel, desvalorizada e desconsiderada pela própria sociedade”, destacou Lúcia.
Fortalecimento da extensão
O reitor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Ufrb), Silvio Luiz Soglia, participou também da mesa institucional e manifestou apoio às iniciativas promovidas pelo fórum.
“As ameaças que hoje pairam sobre o financiamento das universidades terão reflexos muito profundos no ensino, na pesquisa e, sobretudo, na extensão. Para que, de fato, as universidade possam construir algo mais estruturante para a extensão universitária, precisamos estar fortes nesse processo de integração, de discussão, de aprofundamento”, ressaltou o reitor.
Antes da abertura institucional, os gestores participaram do minicurso “Ética nas relações cooperativas entre Universidade e movimentos sociais”, ministrado pela pesquisadora Maria Victoria Espiñeira González, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Para a pró-reitora de Extensão da Ufba, Fabiana Dultra Britto, a atividade foi importante para orientar os debates que se seguem durante a programação do encontro, que termina amanhã (31).
“Começamos muito bem com o nosso minicurso. Já podemos ter um pouco do tom dos debates e das discussões que vamos promover e entender as preocupações que temos nesse momento. A atual situação demanda muita criatividade, disposição e organização para ser enfrentada”, salientou a gestora.
As discussões promovidas durante o evento serão compiladas e vão consolidar a Carta da Bahia, documento que servirá, junto com outros elaborados nos demais fóruns regionais, como referencial norteador para as políticas de extensão no Brasil.
Palavras e Imagens
O primeiro dia do evento foi encerrado com a palestra Palavras e Imagens: reflexões sobre uma experiência de Extensão Universitária, ministrada pelo pesquisador Roberto Novaes, recém-aposentado do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ufrj).
Durante a atividade, ele apresentou detalhes sobre a produção de documentários, trabalho que desenvolve há cerca de 40 anos, por meio do projeto “Educação através das imagens”.
“Trabalhamos com imagens, nos apropriando das pesquisas acadêmicas para consolidar os argumentos dos documentários. Eles podem ser instrumentos para articular o ensino, a pesquisa e a extensão dentro da universidade e para, fora dela, se aproximar dos movimentos sociais”, explicou Roberto.
Para o pesquisador, é essencial dialogar com os conhecimentos tradicionais para se consolidar uma conexão de saberes onde não exista a predominância do saber acadêmico.
“Já concluímos cerca de 40 documentários. Os temas foram pautados junto aos movimentos sociais. Muitas questões são invisíveis para a sociedade e nós, enquanto universidade, precisamos trazer esses temas para se discutir nas escolas e junto à diversos segmentos da sociedade”, destacou o palestrante.
O projeto já finalizou produtos audiovisuais sobre temas como trabalho infantil, no agronegócio; migrações; resgate da memória de lutas sociais no campo e inovação tecnológica.
Movimentos articulados
A programação do evento conta também com mesas-redondas, palestras, debates e roda de diálogo. Estão sendo discutidos temas referentes às relações estabelecidas entre as instituições de educação superior (IES) e os movimentos sociais; aos canais e às formas de financiamento da extensão e às parcerias institucionais.
A professora da UNEB Anhamona de Brito mediou, na tarde de hoje (30), o diálogo entre representações dos movimentos populares e pró-reitores sobre o tema “Repensando os compromissos da extensão universitária em tempos de crise”.
“Em uma atividade como esta, em um momento de crise e golpe, é fundamental que estabeleçamos caminhos de conciliação e composição de forças. Precisamos estabelecer zonas de convergência, trazendo as pautas sociais reprimidas e, principalmente, buscando caminhos que garantam a permanência ou a recomposição de direitos. E, nada melhor do que os movimentos sociais para trazer essa reflexão para este espaço”, ressaltou a pesquisadora.
A roda de diálogo contou ainda com a participação da coordenadora do Centro de Estudos em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade (Cegres – Diadorim) da universidade, Amélia Maraux, e dos representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), José Ronaldo; e da Marcha Mundial das Mulheres, Yasmin Ferraz; além do coordenador do Encontro Mundial de Étnico Empreendedorismo (Emunde), Edson Costa.
O pesquisador da UNEB José Claudio Rocha, coordenador do Centro de Referência em Desenvolvimento e Humanidade (CRDH) participou, também no segundo dia de programação, da mesa-redonda “A (Re)invenção solidária e participativa da Universidade. A extensão universitária em rede”.
O evento será encerrado com a reunião de grupos temáticos para a síntese das discussões promovidas durante o evento, e posterior leitura da Carta da Bahia em plenária.
Fotos: Cindi Rios/Ascom