Flores, presentes e mimos ao mar, logo cedo, dedicados a Yemanjá. Momentos de demarcação de fé e resistência, de preces individuais ou coletivas, ao sabor dos reencontros no Rio Vermelho, em Salvador.
Assim, desde as primeiras horas do dia 2 de fevereiro, o bairro recebeu a comunidade da UNEB para a festa da Rainha do Mar. De branco, e estampando o nome da instituição no peito, gestoras, discentes, técnicos e professores estiveram em comunhão para participar dos festejos.
“Esta é uma grande festa, única e exclusiva das religiões de matriz africana, na qual a universidade precisa estar presente, demarcando o respeito às crenças, reiterando a importância da fé, por um mundo que faça frente a todo o tipo de intolerância religiosa”, ressaltou a reitora da universidade, Adriana Marmori, que acompanhou toda a participação institucional na celebração.
Após dois anos de interrupção por imposição da pandemia da Covid-19, em 2023 a Colônia de Pescadores do Rio Vermelho completou 100 anos de realização da tradicional festa.
A participação institucional da UNEB foi organizada pelo Gabinete da Reitoria, representado pelo chefe de gabinete e pela assessora especial, professores Pedro Daniel e Rita Carvalho, respectivamente, com apoio da Pró-Reitoria de Administração (Proad).
“É muito bom ver a participação da UNEB, nesta grande manifestação de fé! Reafirmamos o nosso compromisso com as tradições culturais e a religiosidade do povo baiano, nessa participação significativa da comunidade unebiana”, destacou o chefe de Gabinete.
Rita Carvalho destacou o papel da universidade no respeito e valorização de todas as religiões.
“Esse é um momento ímpar para a comunidade unebiana que, com sua participação, demarca o lugar da universidade no respeito a todas as religiões. O balaio da UNEB foi preparado com muito cuidado respeitando os fundamentos e utilizando materiais biodegradáveis. A comunidade acadêmica participou preenchendo-o com presentes e boas vibrações, até a sua consumação nas águas do mar. Agradecemos e reverenciamos juntos a energia da Grande Mãe Iemanjá”.
De acordo com a vice-reitora, Dayse Lago, a UNEB se reuniu para agradecer, “para celebrar e pedir, também, abundância. Assim como os pescadores pedem pelos peixes, que a gente também peça pelo amor, pela prosperidade e pela paz no nosso estado e no nosso Brasil”.
Filha de Oyá, a servidora Cida Souza registrou toda a deferência e amor que sente pela “mãe Yemanjá” e explicou que durante esse século as pessoas foram se associando aos festejos, independentemente da religião.
“É fundamental que a universidade, uma academia pública, se integre à população nesta festa. É importante para nós, do Candomblé, que todo este momento e a ampla participação seja vista com naturalidade, para que dialoguemos em especial lugar para o respeito”, afirmou a unebiana.
Da UNEB para Yemanjá
Para a participação institucional, os preparativos foram iniciados há dias. A comunidade universitária realizou doações para o balaio que foi oferecido à Rainha do Mar. Responsável pela confecção da cesta e organização dos presentes, a servidora Marina Marques, da Assessoria de Comunicação (Ascom), acompanhou de perto todas as etapas, até o aceite pelas águas.
“Com muito prazer tenho colaborado com um toque de design a mais na elaboração do balaio, mas, sem perder nunca a pegada do axé, que é o mais importante. Para a oferenda, utilizamos somente produtos rústicos, sem nenhum material que pudesse agredir a natureza e a vida marinha”, explicou a designer da Ascom.
Até o último momento, os presentes foram perfumados pelos unebianos e outros mimos foram adicionados. Exemplo disso, foi a oferenda especialmente feita pelo servidor Rozin Daltro, da Gerência de Apoio à Cultura e às Ciências (GACC) da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), que também compôs a cesta.
“Yemanjá é a mãe de todos e viemos saudar, para abrir o ano da Bahia e que possamos seguir firmes. Para a gente que é candomblecista, estar nesta festa tradicional, que faz parte da identidade do povo baiano, do povo de matriz africana, é um momento especial, de muito amor, no qual pedimos proteção”, afirmou Rozin.
O servidor salientou ainda que a UNEB, enquanto “universidade plural, diversa e democrática, estar aqui, defendendo essa causa importante, contra a intolerância religiosa, demonstra que ela está junto e reafirmando o poder do povo e das tradições populares”.
Festas para as divindades dos rios e das águas existem em diversos países das américas e da África, em diferentes momentos do fim ou do início dos anos. Com data fixa no 2 de fevereiro, os festejos para Yemanjá nasceram no Rio Vermelho, e é quando os pescadores fazem as suas ofertas à Rainha do Mar e pedem proteção e abundância.
Texto e Fotos: Danilo Oliveira/Ascom