Fomentar discussão e subsidiar a formação de futuros profissionais dos cursos da área de saúde, com a perspectiva antirracista em saúde sexual e reprodutiva e direitos. Esse é o objetivo do seminário “Sem deixar ninguém para trás: uma perspectiva antirracista em saúde”.
O evento foi sediado nos últimos dias 8 e 9 de novembro, no auditório do Centro de Pesquisa em Educação e Desenvolvimento Regional (CPEDR), no Campus I da UNEB, em Salvador.
A iniciativa, promovida em parceria entre a UNEB, Secretaria estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), contou com a participação de estudantes e docentes dos cursos da área de saúde da universidade, além de representantes parceiros do evento.
“É fundamental que o currículo acadêmico reflita a diversidade racial e de gênero da nossa sociedade, e que as mulheres negras tenham voz e vez na questão da saúde, que é um direito de todos e todas. Também é importante que o currículo aborde as questões de orientação sexual, pois vivemos em um mundo plural e complexo, onde não há uma única forma de ser e estar. Por isso, esse evento é uma oportunidade de pensarmos coletivamente em como as instituições podem contribuir para a formação de profissionais da saúde comprometidos com a inclusão e a justiça social“, destacou a pró-reitora de Extensão (Proex) da UNEB, Rosane Vieira, que representou a reitora da universidade no seminário.
A representante da Sepromi, Ubiraci de Jesus, destacou a importância do debate sobre os direitos reprodutivos e sexuais da população negra nas universidades públicas.
“É um grande desafio fazer com que o corpo docente das universidades compreenda a importância desse debate com o recorte racial. Não há possibilidade de termos um profissional qualificado sem ele ter conhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos das pessoas negras. A academia tem o papel fundamental na implantação das políticas públicas e no combate ao racismo institucional“, frisou Ubiraci.
Para a representante da UNFPA, Michele Dantas, o seminário permite a possibilidade de discussão do racismo na vida e na saúde das pessoas negras dentro da universidade.
“Esse evento favorece trazer a discussão da saúde sexual e reprodutiva para dentro da universidade e aprofundá-las com futuros profissionais da saúde de como poder eliminar barreiras para que toda a população negra possa ter os seus direitos garantidos”, afirmou Michele.
A iniciativa também visou a contribuição para acelerar três resultados transformadores do UNFPA – zero necessidade não atendida de planejamento reprodutivo, zero morte materna evitável e zero violência e prática nociva contra mulheres e meninas – até 2030 em população e desenvolvimento sustentável.
Direitos sexuais e reprodutivos das mulheres
O seminário reservou a aula magna “Os direitos sexuais e reprodutivo das mulheres no Brasil”, ministrada por Ionara Magalhães, docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Segundo a palestrante, os direitos sexuais e reprodutivos são parte dos direitos humanos, mas nem sempre foram reconhecidos como tal.
“A dificuldade para esse entendimento existe por vários obstáculos para a efetivação desses direitos, como a oposição de setores conservadores, as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, as situações de discriminação e violência, e as divergências de ordem moral, ética e religiosa. É preciso que a sociedade supere esses desafios e seja garantido que todas as pessoas possam exercer sua sexualidade e reprodução com liberdade, dignidade e respeito“, destacou a pesquisadora.
A vice-presidente da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), Andréia Almeida, participou da atividade e ressaltou a importância de preparar os futuros profissionais da saúde para atuarem de forma antirracista.
“É uma oportunidade de promovermos o debate entre os novos profissionais que estão se formando e ingressando no mercado e de pensar nessa perspectiva antirracista. Precisamos compreender que saúde não é apenas cuidar do doente. Mas também envolve a questão do acesso, acolhimento e escuta. A luta por uma sociedade antirracista não é uma luta individual, mas sim coletiva”, afirmou Andréia.
Nos dois dias de evento, cinco eixos orientaram os debates: eixo 1 – os três resultados transformadores na perspectiva antirracista; eixo 2 – atenção e cuidado sobre a saúde da população negra; eixo 3 – dentro e fora dos muros: como as universidades podem incorporar a transversalidade racial para avançar na promoção da saúde sexual e reprodutiva; eixo 4 – Consenso de Montevidéu sobre População e Desenvolvimento: impacto da crise climática na saúde sexual e reprodutiva da população negra, povos e comunidades tradicionais; e eixo 5 – os estudantes negros e negras: seus rostos e vozes.
Texto: Danilo Cordeiro/Ascom. Fotos: Danilo Cordeiro e Leandro Pessoa/Ascom