Em momento de celebração e reverência à ancestralidade e às lutas e conquistas, a UNEB comemorou na noite de ontem (26), os dez anos de implantação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas (Proaf) da universidade.
A solenidade celebrou os avanços na promoção da equidade e no combate às desigualdades socioeconômicas, étnico-raciais, de gênero, de condição da deficiência e da neurotipia no ambiente acadêmico, e para celebrar a ampliação da diversidade da comunidade acadêmica conseguida por meio das políticas de cotas.
Participaram da solenidade estudantes, docentes, pesquisadores, gestores da instituição e autoridades. Em seu discurso, a reitora Adriana Marmori relembrou o processo de implantação do Sistemas de Cotas na universidade.
“Lembro dos professores Valdélio Silva e Wilson Matos construindo à época da gestão da professora Ivete Sacramento, primeira reitora negra desta universidade, a proposta que iria para o Conselho Universitário. Foi uma reunião do Consu histórica, pois havia um projeto em discussão para implantação do sistema de cotas na nossa UNEB. Foi um processo de debate muito difícil porque naquele período, há 21 anos, ainda havia questionamentos sobre a implantação das cotas. Mas, hoje, podemos bater no peito e dizer que daquele Consu histórico a nossa instituição é referência nacional no sistema de cotas. Temos a certeza de que a nossa universidade vai continuar com o seu pioneirismo e protagonismo. Em todo o Brasil e fora dele, a UNEB é vista e lembrada como a universidade que implantou o sistema de cotas e que possui uma outra relação com os estudos étnico-raciais”, destacou a reitora.
Representando o governador do estado, a secretária de Educação (SEC), Adélia Pinheiro, ressaltou a importância da UNEB no processo de implantação das políticas afirmativas no estado. “Não vou celebrar apenas os dez anos da Proaf, vou celebrar os quase 21 anos da política de cotas que a UNEB implantou na Bahia, a partir dos compromissos construídos pela comunidade acadêmica, permeada pelos movimentos sociais. Isso faz muita diferença. Isso caracteriza, dá identidade a esta universidade, que fez transbordar tais compromissos para as outras três universidades estaduais da Bahia, com diferentes identidades. Esta celebração, hoje, conta com a comunidade universitária, mas também com a presença maciça dos movimentos sociais, pelo reconhecimento”.
A vice-reitora Dayse Lago frisou que a UNEB tem possibilitado o acesso à educação superior pública no estado. “Com o seu compromisso social e político, a UNEB não se furta em inovar e ousar. Graças a sua multicampia e as suas políticas afirmativas e inclusivas, a universidade tem possibilitado acesso para as pessoas trans, pessoas com deficiências e altas habilidades, indígenas, quilombolas, negros, mulheres e homens trabalhadores. Viva a UNEB. Viva a Proaf”.
Estudante do curso de Pedagogia da UNEB, Mariela Santos, afirmou que a universidade a fez ter conhecimento e ser uma voz insurgente. “Ingressei nesta instituição em 2019, sou filha das cotas, sou estudante cotista, sou mãe solo. Logo percebi que para poder alçar os meus objetivos acadêmicos, pessoais e profissionais dentro da universidade, eu tinha que mergulhar nessa gama de oportunidades. Sou uma mulher preta, que conseguiu sair do fundo do quarto dos patrões para estar dentro de uma universidade pública, lutando e resistindo por mim e pelos meus”, disse a discente, representando o Diretório Central Estundantil (DCE).
Em seu pronunciamento, a pró-reitora da Proaf, Dina Maria Rosário, fez um discurso contundente contra o racismo. “Convido vocês a superar os epistemicídios, racismos, transfobias, genocídios, capacitismos. Urge iluminar sombras as práticas veladas de discriminação. Preconceito e ignorâncias se escondem nas entrelinhas dos discursos, das narrativas, dos currículos e das políticas públicas que deveriam combatê-las. A universidade gratuita e laica tem como compromisso o conhecimento e a cidadania”.
Também presente no evento, a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (Sepromi), Ângela Guimarães, destacou o pioneirismo da UNEB na implementação das políticas afirmativas. “A UNEB foi pioneira em ter a primeira mulher negra reitora no Brasil, e isso não é pouca coisa. Esta universidade foi pioneira em dizer para nós de uma Bahia com 80% da população negra que era possível, viável e efetivo implementar as políticas afirmativas no contexto em que as ações afirmativas eram atacadas. É representativo celebrarmos os dez anos da Proaf e toda a trajetória da UNEB porque sempre foi uma instituição enraizada nas comunidades onde ela está inserida”.
Lançamentos
O evento reservou o lançamento do selo comemorativo e do terceiro volume da Série Afirmativa, edição que marca comemoração de uma década de atuação da pró-reitoria, além de intervenções artísticas dos espetáculos teatrais “Maria(s) De Quê?”, da atriz Carine Narciso; e “A mala Pandora apresenta mugiganga uma esperança!”, da performer Luana Rocha.
Durante a cerimônia, a reitora da universidade Adriana Marmori lançou o programa Pro UNEB Diversa. “Esse programa foi construído a partir de uma escuta que irá funcionar em rede. Esta rede será constituída por adesão daqueles e daquelas que tenham em seus estudos, vivências e suas experiências dos movimentos sociais e coletivos que queiram contribuir para uma reflexão e para uma outra projeção de sociedade, fazendo valer a reflexão, o pensamento e a ação”. explicou a reitora.
Proaf – Instituída por meio da Resolução nº 1023/2014 do Conselho Universitário (Consu) e com regimento aprovado em 2019, a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas da UNEB nasceu como a primeira pró-reitoria de uma universidade pública voltada exclusivamente para as ações afirmativas do Brasil.
O órgão, da Administração Superior da Universidade, é responsável pelo acompanhamento, promoção e criação de estratégias para as ações afirmativas, e uma das ações mais abrangentes é o Sistema de Cotas para ingresso no Ensino Superior na instituição.
Texto: Danilo Cordeiro/Ascom. Fotos: Danilo Oliveira/Ascom