Acadêmicos discutiram alternativas para envolver cidadãos e comunidades em seus trabalhos. Fotos: Cindi Rios/Ascom
Pesquisadores se reuniram para aprofundar as discussões sobre a produção de trabalhos acadêmicos que utilizam metodologias participativas. Que, em outras palavras, envolvem o cidadão e as comunidades, os entendendo enquanto coautores dos saberes produzidos.
O encontro foi promovido pelo III Seminário de Metodologias Participativas. O evento foi iniciado ontem (5) e segue com programação até esta sexta-feira (6), no Hotel Vila Velha, em Salvador.
José Cláudio, Letícia Conceição e Anhamona de Brito apresentaram trabalhos no evento
A iniciativa é realizada pelo Centro de Referência em Desenvolvimento e Humanidades (CRDH) da UNEB, em parceria com os grupos de pesquisa Gestão, Educação e Direitos Humanos (Gedh) e CriaAtivos: criando um novo mundo.
“Apenas dentro da academia não se constrói a interdisciplinaridade. É preciso o encontro com outros objetivos, desejos e sonhos”, avaliou o coordenador do CRDH e do evento, José Cláudio Rocha, salientando que viabilizar a participação de outros atores é um imperativo ético para acadêmicos que produzem pesquisa social.
Em referência ao livro A Universidade no século XXI, José Cláudio Rocha defende que a ecologia de saberes, a extensão universitária e a pesquisa-ação são formas de fazer a universidade que vão crescer. A publicação conta com colaborações de pesquisadores como Boaventura de Sousa Santos e Naomar Almeida.
“Por uma universidade emancipatória, democrática e inclusiva, como a UNEB, nós não podemos hierarquizar e achar que conhecimento científico está acima do conhecimento que têm as comunidades, o mercado ou setor público”, frisou o professor, que também ministrou a conferência institulada Contribuições da pesquisa-ação para o exercício da função social da universidade.
Compromisso social
A programação acadêmica do seminário foi iniciada pela conferência Epistemologias do Sul e o compromisso social enquanto metodologia, proferida pelo pesquisador do CRDH Felipe Bomfim.
Para orientação dos participantes, foram apresentados conceitos como os de epistemologia, processo cognitivo, método e metodologia, assim como foi debatida a metáfora do pensamento abissal, pela ótica do autor português Boaventura Souza e Santos.
Felipe Bomfim: “estamos em um processo de dominação já a partir do conhecimento”
“No pensamento abissal, Boaventura nos conta que somos penalizados no conhecimento. A partir no momento em que nossas pesquisas, as nossas referências epistemológicas, os nossos campos epistemológicos são eurocêntricos, estamos em um processo de dominação já a partir do conhecimento”, avaliou Felipe.
O conferencista convidou os participantes a privilegiar os saberes locais, a citar e prestigiar autores nacionais em suas pesquisas e a produzir e utilizar novos métodos e metodologias.
A proposta foi endossada por Anhamona de Brito, professora do Campus XIX da UNEB, em Camaçari: “Além da desobediência necessária, inclusive epistêmica com essa relação com o norte perverso, é importante que a gente fortaleça perspectivas de trocas criativas e que bebamos nessas fontes, principalmente, populares”.
A pesquisadora, em parceria com José Cláudio e Letícia Conceição, apresentou ainda o trabalho Participação Popular por uma nova política sobre drogas: Apresentando referenciais metodológicos do projeto OPPD Racial.
Arethusa Santos: “Saio do evento com ideias mais elaboradas para o meu projeto”
Espaço de trocas
A programação do III Seminário de Metodologias Participativas seguiu até a tarde de hoje (6), com conferências, apresentação de trabalhos, minicursos e atividades culturais.
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito (PPGSD) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Arethusa Santos apresentou o trabalho Luta por uma escola de ensino médio em Cidade de Deus através da atuação do Comitê Comunitário Cidade de Deus.
De acordo com a acadêmica, o evento se consolidou como uma importante alternativa para trocar experiências, sobretudo, sobre pesquisa-ação e a extensão universitária.
“Saio do evento com ideias mais elaboradas para o meu projeto e sobre como tentar buscar o retorno para a comunidade, imbuída da necessidade de não se fazer academicismo”, destacou a acadêmica.
O evento contou com apoio da Proex, do DMMDC, do Programa de Pós-Graduação Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (Gestec) da UNEB, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).