Espetáculo do Coro Oyá Igbalé (UNEB) celebra 2 de Julho e exalta luta dos caboclos por liberdade

“Coração de Caboclo” lançou oficialmente as comemorações do projeto pelos 200 anos da Independência da Bahia

Em frente ao Monumento ao Dois de Julho, símbolo da identidade, da nacionalidade e da libertação do povo brasileiro, na Praça do Campo Grande, corpos e vozes em uníssono celebraram a Independência da Bahia e exaltaram a luta do povo baiano por liberdade e democracia.

Julice Oliveira: a luta do 2 de julho foi do povo baiano, por liberdade e democracia

Em homenagem musical aos “verdadeiros Donos da Terra Brasilis”, o Projeto Coro Oyá Igbalé retornou aos palcos, na noite da última quinta-feira (18), com o Espetáculo “Coração de Caboclo“, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves (TCA), no Centro Histórico de Salvador.

“Quando a Bahia lutou pela independência, em 1823, não foi uma luta formada apenas por heróis, mas, pelo povo baiano. Hoje a gente tem a alegria de apresentar esse espetáculo aqui, bem em frente ao Monumento do Caboclo, construção que também é um marco de reconhecimento dessa luta e parte do percurso do desfile do festejo popular”, comemorou a professora Julice Oliveira, coordenadora do projeto.

Também à frente da direção de arte, da regência e da produção executiva da atração, a pesquisadora ressaltou que a difusão da arte, através do diálogo com a comunidade e da ida da universidade aos espaços públicos, faz parte das perspectivas de trabalho do coro.

Arte e valorização da luta popular

A apresentação, gratuita e aberta ao público, marcou o lançamento oficial das celebrações pelos 200 anos do Dois de Julho (Independência da Bahia) do Coro Oyá Igbalé. Durante a atração, foram interpretadas cantigas dos Caboclos de Pena (Caboclo Índio), com destaque especial para os cânticos dedicados para as Cabocla Jurema e seus filhos espirituais.

Josenita Trindade: “Mesmo perseguido, esse canto segue vivo nas nossas casas, nos nossos terreiros”

“Cantar para os caboclos é cantar para o índio, que também construiu a identidade brasileira. Mesmo perseguido, esse canto segue vivo nas nossas casas, nos nossos terreiros. Tenho o prazer de fazer parte do coro e de saber que, dentro da universidade pública, há um espaço de reconhecimento da Cultura Afro-Brasileira e da Música Sacra Afro-Brasileira”, destacou a coralista Josenita Trindade, que é professora de História das redes públicas estadual e municipal de educação.

De acordo com o Alabê e músico do Oyá Igbalé, Ricardo Costa, foram também tocados no espetáculo ritmos relacionados à expressão dos caboclos, a exemplo do Kabila, do Congo e do Barravento.

Ricardo Costa: “A Música Sacra Afro-Brasileira vem das ruas para os espaços culturais”

“Cada manifestação tem as suas cantigas específicas, que passam por variações desses ritmos. A Música Sacra Afro-Brasileira vem das ruas para os espaços culturais, sua origem é essencialmente popular”, explicou o artista.

Antes de chegar ao palco da Sala do Coro do TCA, o espetáculo foi apresentado em ensaio aberto, no último dia 30 de junho, no Campus I da UNEB, no bairro do Cabula, em Salvador.

Universidade, música e combate à intolerância

Com a Sala do Coro cheia de entusiastas e curiosos, o Espetáculo “Coração de Caboclo” foi prestigiado por gestores, servidores e estudantes da Universidade do Estado da Bahia, que aplaudiram de pé ao término da apresentação.

Vice-Reitora da UNEB, professora Dayse Lago prestigiou o espetáculo: “Muito encantada”

Estou muito encantada. Vemos a UNEB ultrapassar os seus muros, ocupar outros espaços, para mostrar à comunidade aquilo que ela faz. É a partir do conhecimento e das vivências nessas diversas linguagens que vamos compreendendo como as pessoas pensam, se organizam. Essa experiência faz com que a gente reconheça, através da arte, a nossa identidade, a identidade brasileira”, comemorou a vice-reitora da UNEB, Dayse Lago.

Capaz de também atrair o interesse da comunidade externa, o Coro Oyá Igbalé foi assistido pelo jornalista Bruno Machado. “Muitas dessas canções fazem parte do meu dia a dia de terreiro, e é muito interessante poder acompanhá-las nesse outro espaço clássico da cidade, que é a Sala do Coro”, ressaltou o espectador.

Ao parabenizar o projeto pela homenagem aos caboclos e caboclas, consagrando o Dois de Julho e os valores da independência, Bruno frisou ainda que “cantar também para as pessoas que não são das religiões de matrizes africanas é um passo importante para a superação da intolerância religiosa”.

O Coro Oyá Egbalé foi aplaudido de pé ao término do Espetáculo “Coração de Caboclo“

O espetáculo conta com o apoio da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA), que é celebrado como parceria acadêmica e cultural junto ao coro e ao Grupo de Estudos em Estética e Contracultura, ambos vinculados ao Departamento de Educação (DEDC) do Campus I da UNEB, em Salvador.

Criado em 2014, o Projeto Coro Oyá Igbalé: Música Sacra de Matriz Africana visa promover a difusão da “Cultura da Paz” que parte do reconhecimento da Música Sacra do Candomblé como expressão da arte. A sua filosofia tem referência em valores humanísticos universais, como a fraternidade, a solidariedade e o respeito. Ele contribui também para a preservação e difusão do repertório formado por cânticos do Candomblé das diferentes nações.

Texto e fotos: Danilo Oliveira e Leandro Pessoa/Ascom