“Romper as cercas da ignorância, que produz a intolerância. Terra é de quem plantar”.
Sob os versos da “Canção da Terra” de Pedro Munhoz, interpretada pela dupla artística Tobias e Gabriel, acompanhada pelo músico Raomi, foi aberto ontem (22) o III Encontro Baiano de Educação do Campo (Ebec).
O evento, realizado pelo Centro Acadêmico de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial Paulo Freire (CAECDT) e do Grupo de Pesquisa Educação do Campo, Trabalho, Contra-hegemonia e Emancipação Humana (Gepec), ambos da UNEB, segue com extensa programação até este sábado (24), no Teatro da universidade, no Campus I, em Salvador. O tema do encontro destaca a “Educação do Campo e Agroecologia – Lutas, Resistências e Emancipação Humana”.
“Realizar o Ebec foi um desafio que nós nos colocamos, principalmente, no cenário em que nosso país está vivendo. Neste terceiro encontro, gostaríamos de dizer que o Coletivo de Educação do Campo da UNEB se coloca em um projeto de vida e de esperança. Nosso evento é fruto de muito esforço, de colocação acadêmica, científica, mas, também política. Nós viemos para demarcar espaço”, destacou a representante da comissão organizadora do evento, professora Luzeni Carvalho.
Na abertura do evento, estiveram presentes estudantes, pesquisadores, gestores da universidade e representantes dos movimentos populares. O encontro contou também com a participação da reitora da instituição, Adriana Marmori, da vice-reitora, Dayse Lago, e da coordenadora de Educação do Campo e Quilombola da Secretaria da Educação (SEC), Poliana Reis.
“Hoje a nossa universidade evoluiu muito na dimensão da política da educação do campo. Essa rede de hoje, que se consolidou com outras pessoas que fazem parte da discussão da educação do campo, se firmou a partir das discussões sobre o Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária). E cada curso que era registrado no programa vinha de uma relação dialógica com os movimentos sociais, desde o currículo à forma, que o caracterizou, deu corpo e hoje temos a nossa pedagogia da alternância, perpassando pela educação do campo. Fica a semente plantada e que dê bons frutos”, ressaltou professora Adriana.
Para a vice-reitora, Dayse Lago, a presença dos camponeses na universidade é oportunidade de aprendizado: “As ações desenvolvidas pelas pessoas que pensam a educação do campo junto com os movimentos sociais têm inspirado outros grupos e centros de pesquisa da nossa instituição, e isso tem modificado nossos currículos, nossas relações, e nossos sistemas de adequação pedagógica”.
Coordenadora de Educação do Campo e Quilombola da Secretaria da Educação (SEC), Poliana Reis parabenizou o CAECDT e o Gepec por reunir pessoas tão importantes da educação do campo. “Eu tenho certeza que o saldo da construção deste espaço será o avanço em nosso projeto de campo, de educação, e de sociedade. A política pública da educação do campo e da agroecologia se faz com seus principais protagonistas e em ação coletiva”, frisou a gestora.
Luta pela educação do campo
Além da presença, especialmente, de estudantes do curso de bacharelado em Agroecologia e de especialização em Educação do Campo da UNEB, estiveram também presentes líderes de movimentos sociais em defesa pela terra.
“É emocionante nos reunirmos e debatermos propostas para a educação do campo e a agroecologia. Nós que temos a vivência do campo, sabemos o quão importante é defendermos a pauta, principalmente em tempos que estamos vivendo. Precisamos unificar cada vez mais as nossas lutas, as nossas pautas, e construir, de fato, uma educação do campo com agroecologia que consiga fazer romper com a cerca do latifúndio”, salientou a representante do Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), Jasian dos Santos.
Como representante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Pablo Henrique Montalvão lembrou da necessidade da luta pelo fortalecimento da educação do campo. “Neste momento temos a necessidade de fortalecer e reencontrar dentro da gente a esperança na luta pela educação do campo, mas também pela democracia, pelo povo, pela vida e pela soberania nacional”, defendeu.
Na mesma linha, o representante do corpo discente do curso de especialização em Educação do Campo da UNEB, Jagner Teles afirmou: “Falar de educação do campo, é falar de inclusão, é falar de esperançar, é falar de vida. Viva a agroecologia do campo! Viva educação do campo! Viva a justiça social”.
Representando o corpo discente do curso de bacharelado em Agroecologia da UNEB, o estudante Braulino Santiago frisou que o encontro “impulsiona e abre possibilidades de construir propostas para a educação do campo e, assim, fazer incluir pessoas menos favorecidas e as comunidades tradicionais”.
Compromisso da UNEB com a educação do campo
A terceira edição do encontro oportunizou destacar as ações que vêm sendo realizadas pelo Centro Acadêmico de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial Paulo Freire (CAECDT) da universidade, que foram divulgadas pelo representante, Domingos Trindade.
“Quero destacar que hoje nosso centro acadêmico conta duas turmas do curso de bacharelado em Agroecologia, dez turmas de especialização em Educação do Campo. Estamos também desenvolvendo a pesquisa diagnóstico da educação do campo. São ações do CAECDT e do compromisso da universidade em levar educação para a classe trabalhadora”, evidenciou o docente.
Em sua fala, a integrante do Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) Jasian dos Santos agradeceu a UNEB pela parceria em levar educação aos trabalhadores do campo.
“Eu gostaria de agradecer o desafio que a UNEB topou e assumiu junto ao Movimento Sem Terra e à Secretaria da Educação de alfabetizar mais de 4,5 mil camponeses através do Método ‘Sim, eu posso!’. Esse é um desafio revolucionário que a universidade topou assumir de pronto conosco. Vamos juntos nessa caminhada fazer um grande processo revolucionário de educação”, considerou a representante.
Cenário político e econômico do Brasil e da América Latina
Ainda no primeiro dia de programação, o evento contou com a conferência “Análise de Conjuntura: Cenário político, econômico, sociocultural e as projeções para o Brasil e América Latina”, proferida pelo professor José Jonas Duarte da Costa, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mediada pela pró-reitora de Extensão (Proex) da UNEB, Rosane Vieira.
O conferencista avaliou que a sociedade global atualmente vive um momento de transição radical em suas estruturas: “a ordem econômica, político e social, que emergiu na Segunda Guerra Mundial e tornou o Estados Unidos uma grande potência, ao meu ver, está se desmontando. Com o fim da União Soviética, nasce o globalização liberal que, por consequência, produziu a China economicamente. Nesse processo de globalização de transferência de mão-de-obra barata no mundo, a China absorveu grande parte das grandes indústrias e se transformou a oficina do mundo”.
O palestrante frisou ainda que nasce no mundo a multipolaridade econômica e, como consequência, as expressões de crises políticas. “Em nenhum momento da história do mundo, as transições políticas ocorreram de forma pacífica. Nasce um novo mundo multipolar, e nesse novo mundo nasce as crises políticas. As crises econômicas explodem politicamente, vinculados às visões extremas. Nesse momento os extremos se fortalecem, está aí o exemplo do crescimento da extrema direita no mundo”, contextualizou o conferencista.
O evento segue até este sábado (24), e reserva ainda mesas temáticas, rodas de conversas, apresentação de trabalhos e atividades culturais, além de uma Feira Agroecológica, montada em frente ao Teatro UNEB.
Texto: Danilo Cordeiro/Ascom
Fotos: Danilo Oliveira e Leandro Pessoa/Ascom