“Nossas diferenças, trajetórias e protagonismo social são fundamentais para a formação da humanidade” (Reitora Adriana Marmori)

No nosso Dia Internacional, cabe-nos realçar e celebrar o protagonismo que se fortalece nos papeis de crescente relevância que ocupamos no mundo. Afinal, por no mínimo 24 horas, somos lembradas, exaltadas, valorizadas, amadas, reconhecidas, mimadas com presentes, frases de efeito, cards, memes, reels, mensagens digitais… enfim, somos envoltas em uma onda impulsionada por dois grandes movimentos: o de lembrarmos que somos mulheres e o de olharmos para as nossas histórias e para a memórias daquelas que vieram antes de nós e deixaram seus legados de luta por igualdade, equidade, direitos, respeito e justiça.

Adriana: “É tempo de reiterarmos nossa diversidade de corpos, gostos, pensamentos”.

É tempo de reiterarmos nossa diversidade de corpos, gostos, pensamentos, projetos de vida e, ao mesmo tempo, de nos posicionarmos em defesa de pautas emancipacionistas e libertárias que, por séculos, não têm sido compreendidas socialmente. Esse viés pervertido intenta inferiorizar a mulher com os atributos de fragilidade e submissão, em linha com os ditames do patriarcado e machismo enraizados que insistem em apontar o sexo oposto como único possuidor de força, coragem, determinação e poder. Peculiaridades essas assumidas “naturalmente“ e com exclusividade desde a tenra infância com as brincadeiras, passando pela relação familiar doméstica, estendendo-se ao trabalho e às relações sociais e afetivas, imprimindo os arquétipos da baixa autoestima e dependência emocional à mulher, bem assim a descrença na capacidade de superar esse “mal estar imperioso”.

Somos no Brasil 51,2% da população, segundo relatórios do 3º trimestre de 2024 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, ou seja, somos a maioria expressiva que ainda sofre preconceitos, violências, diferenças de salários a menor, divisão sexual do trabalho injusta, racismos, sexismos. Cenário adverso em que, desafiando o preconceito, exercemos nossa força de trabalho de forma diferenciada pela qualidade e pela sensibilidade, e produzimos destacadamente para a economia do país.

Nossa forma de vida e nossa influência social pujante incomoda o aparato machista-patriarcalista, assim como também os incomoda a nossa cultura e o vigoroso posicionamento feminista de denunciar, enfrentar e sobrepujar todo tipo de desigualdade e agravos que venham a nos atingir de forma pejorativa ou negativa.

Sejamos quilombolas, indígenas, negras, das águas e das florestas, do campo e das cidades. Sejamos idosas, trans, travestis, ciganas, mulheres com deficiência, de feixe e fundo de pastos ou geraseiras, sejamos secretárias, docentes, estudantes, enfermeiras, servidoras públicas, domésticas, cuidadoras, babás, médicas, engenheiras, advogadas, fisioterapeutas, dançarinas, privadas de liberdade, moradoras de rua, circenses, atrizes, cantoras… Nossas diferenças, nossas escolhas, nossas histórias, trajetórias de vida e protagonismo social são fundamentais para a formação da humanidade.

Se almejamos um projeto de sociedade mais tolerante, humanizada e respeitosa, constitui-se inarredável a mobilização permanente para fazer reconhecer a diversidade que nos caracteriza, a pluralidade de modos de vida que possuímos no país, e identificarmos os direitos que ainda precisam ser assegurados enquanto politicas públicas. Muitas conquistas e programas já foram realizados, mas há ainda um universo a se concretizar.

Emancipação, autonomia e liberdade só se materializam à medida em que conseguimos exercer relações sociais de respeito à dignidade humana e de valorização sobretudo à nós, MULHERES, em uma sociedade democrática. Essa evolução-transformação, ainda que tardia, brilhará sempre no nosso horizonte. É imperativo mantermos acesa a esperança por dias melhores e apostarmos nos processos educativos – e, consequentemente, numa mudança radical de paradigmas.

É indispensável compararmos, de um lado, os espaços de destaque ocupados por mulheres e sua ascensão a postos de liderança e comando, os dados oriundos do progresso nas ciências por elas produzidas de forma excepcional, possibilitando o aprimoramento de realidades em áreas distintas como na Química, nas engenharias, na robótica e tantas outras. Em paralelo ao nosso convívio diário com situações e dados alarmantes de feminicídio e das inúmeras violências sofridas por muitas de nós. Essa dualidade entre conquistas efetivas por um lado, e pelo outro os desafios de uma sociedade que causam dores e medo nos impelem a refletirmos e a questionarmos diariamente qual mundo estamos de fato construindo para as próximas gerações.

Enquanto pedagoga e gestora de universidade pública, junto aos meus pares, sempre defenderei o 8 de Março como a data da reflexão e da projeção de ações extensivas aos 365 dias do ano voltadas para a conscientização popular, para a educação continuada e para a superação das assimetrias perversas que intentam nos perpetuar em situações de inferioridade, buscando sempre o respeito, a valorização e a visibilidade positiva de nós MULHERES.

*Por Adriana Marmori, reitora da UNEB
Imagem arte (destaque): Marina Marques/Ascom
Foto: Danilo Oliveira/Ascom