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UNEB divulga nota pública sobre Concurso Docente 2022

A Universidade do Estado da Bahia (UNEB) vem a público informar que cumpriu os termos do Edital Nº. 034/2022, referente ao Concurso Público Docente 2022, o que inclui, evidentemente, as questões atinentes à reserva de vagas para pessoas negras (de cor preta ou parda) e pessoas com deficiência, em obediência à lei Estadual Nº. 13.182 de 06/06/2014, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial na Bahia, e à lei Estadual Nº nº. 6.677/1994, que reserva vagas para pessoas com deficiência, conforme metodologia da reserva global das maiores notas por componente nos termos da Resolução CONSU Nº 1.511/2022, publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) de 04.05.2022.  

O concurso em questão foi realizado após 10 anos sem ampliação do quadro docente e, a partir de uma luta histórica, conseguimos nessa gestão realizá-lo para um total de 134 (cento e trinta e quatro) vagas, a fim de absorver em nossos quadros docentes de provimento efetivo auxiliar. Das vagas, 30% (trinta por cento) foram reservadas para pessoas negras (de cor preta ou parda) autodeclaradas e heteroidentificadas, ou seja, 40 (quarenta) vagas, e 5% (cinco por cento) para pessoas com deficiência, em um total de 07 (sete) vagas, tendo sido já convocadas no último sábado, dia 30 de julho.

O certame teve 5.190 (cinco mil cento e noventa) candidatos/as inscritos/as, 133 (cento e trinta e três) bancas examinadoras, desenvolveu-se em 22 (vinte e duas) cidades, movimentou centenas de servidores/as e colaboradores/as da UNEB, em 04 (quatro) fases distintas, além da heteroidentificação, que também se deu de forma descentralizada para atender aos candidatos/as interiorano/as.

Ademais, em postura democrática diante da discussão de implantação do sistema de cotas no certame, a UNEB manteve-se aberta à escuta de toda sociedade, incluindo reuniões com Universidades Estaduais da Bahia, representantes dos Movimentos Sociais e da Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB), além da escuta a professores da universidade que desenvolvem pesquisas em centros temáticos, a exemplo do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (Cepaia).

Ressalta-se ainda que a realização desse certame é fruto de luta, de diálogo, de muitas articulações internas e externas para sua concretização. A convocação dos/as aprovados/as, publicada em diário oficial no último dia 30 de julho, é motivo de celebração institucional, uma vez que a incorporação desses novos docentes ao quadro efetivo na UNEB representa um avanço significativo para o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, por tratar-se de um pleito também da categoria discente que clama por falta de docentes em diferentes componentes curriculares.

A recomposição do quadro de professores na capital e no interior do estado representa um ganho exponencial para a produção e difusão do conhecimento, além de ratificar o compromisso da Universidade pública que, por vezes, tem sua qualidade e legitimidade questionada por quem a desconhece.

A UNEB é uma universidade que desde o seu nascedouro possui uma perspectiva de inclusão à medida que buscou levar o ensino superior ao interior da Bahia, tendo sido uma das pioneiras na implantação de cotas raciais no acesso de estudantes à universidade desde 2002, quando ainda sequer existia lei de cotas raciais no Brasil. Recentemente, avançamos ampliando sistema de reserva de vagas para, além de 40% das vagas para estudantes negros (as) de baixa renda e oriundos (as) de escola pública, também incluir por sobrevagas pessoas indígenas; quilombolas; ciganas; com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades; transexuais, travestis e transgênero, em 5% (cinco por cento) para cada categoria.

A atual gestão da UNEB, liderada por uma mulher negra, com uma comunidade acadêmica que desponta pelo respeito nacional e internacional com sua produção cientifica e defesa das pautas étnico-raciais, em uma população interna de aproximadamente 40 mil pessoas (estudantes, técnicos e docentes) e atuação indireta em toda a Bahia, vem trabalhando diuturnamente na perspectiva de integrar-se pela via da Ciência, ao protagonismo das comunidades que historicamente foram subjugadas e excluídas dos postos de poder e renda (a exemplo das pessoas negras e deficientes), e não teria, portanto, quaisquer motivos para promover dificuldades ou embaraços à entrada de docentes negros/as ou com deficiência em seu quadro funcional.

Por fim, a UNEB reforça o seu compromisso com a luta resiliente por igualdade e justiça social, a partir da promoção de ações afirmativas cotidianas e efetivas, pautadas pelos princípios da democracia, autonomia e inclusão.

Assessoria de Comunicação
Universidade do Estado da Bahia

UNEB inscreve até amanhã (16) para Vestibular 2022.2; são ofertadas 3.401 vagas para cursos presenciais e EaD

A Universidade do Estado da Bahia segue com inscrições abertas, até amanhã (16), para o Vestibular UNEB 2022.2. Os interessados devem se inscrever, exclusivamente, pelo site vestibular.uneb.br.

Estão sendo ofertadas 3.401 vagas pelo processo seletivo, para cursos de graduação na modalidade presencial (2.291) e na modalidade a distância (EaD), oferecidos pela instituição (650) e pelo Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB), ministrados  pela UNEB (460).

Conforme edital do vestibular, será feita a reserva de 40% do total de vagas para negros. A política de cotas da universidade também prevê o direito a 5% de sobrevagas para indígenas; quilombolas; ciganos; transexuais, travestis e transgêneros; pessoas com deficiência, com transtorno do espectro autista e com altas habilidades. Cada grupo contará com essa porcentagem em todos os cursos.

Estão habilitados a concorrer às vagas ou sobrevagas reservadas, os candidatos que autodeclarem fazer parte dos grupos citados; tenham cursado todo o Ensino Fundamental II e todo o Ensino Médio exclusivamente em escola pública; registrem o valor máximo de renda bruta familiar e que se enquadrem nos requisitos previstos pelo edital do processo seletivo.

As inscrições devem ser realizadas no site do Vestibular UNEB 2022.2. O interessado deve clicar em “INSCRIÇÃO ONLINE”, identificar o seu grupo de pertencimento, escolher a modalidade de ensino desejada, primeira e segunda opções de curso, língua estrangeira, optar ou não pelas cotas e definir local onde realizará as provas. A taxa é de R$ 100 e deve ser paga até a data apresentada pelo boleto bancário.

As provas serão aplicadas nos dias 31 de julho e 1º de agosto. A relação de cursos, quadro de vagas, informações sobre as provas, documentação solicitada e cronograma da seleção constam no edital do Vestibular UNEB 2022.2.

O candidato que solicitou a isenção da taxa e não foi contemplado, mas, desejar realizar as provas do processo seletivo deverá, no período de inscrição, acessar o módulo de consulta no site do vestibular, utilizando o seu código ou CPF e data de nascimento, e imprimir o boleto para realizar o pagamento da taxa.

Veja o Manual do Candidato – Vestibular UNEB 2022.2

Acesse as provas dos últimos vestibulares

Veja as concorrências dos anos anteriores

Informações: Centro de Processos Seletivos/UNEB – tel. (71) 3117-2352 ou e-mail cpsvestibular2022@uneb.br.

Imagem (destaque): Arte de Adriano Reis/Ascom

UNEB lança versão digital de HQ sobre sistema de cotas na universidade

A UNEB, através da Pró-reitoria de Ações Afirmativas (Proaf), lança, nesta sexta-feira (30), a edição digital da revista em quadrinhos “Você é a UNEB”.

A HQ afirmativa, ilustrada por Zeca Forehead, aborda o sistema de cotas da universidade, tendo como inspiração artística o cotidiano dos estudantes.

A narrativa “Você é a UNEB” conta a história de 11 personagens, todos cotistas em diferentes categorias (Negros/as; Indígenas; Quilombolas; Ciganos/as; Pessoas com deficiências, Transtorno do Espectro Autista e Altas Habilidades; Travestis e Transexuais). Em sua versão digital, a publicação estará disponível também com audiodescrição.

“Desejamos que esse novo formato da HQ amplie o universo de estudantes leitores e que possamos traduzir de maneira ilustrativa e divertida, as nossas histórias afirmativas”, declarou a pró-reitora de Ações Afirmativas, Amélia Tereza.

A HQ é uma produção da Gerência de Promoção e Acompanhamento das Ações Afirmativas(GPAAAF), coordenada pela professora Dina Maria Rosário dos Santos. A versão física da revista, lançada no IV ENINEPE em 2019 e distribuída na Universidade, agora expande o seu alcance através da versão digital.

Mais informações:  www.portal.uneb.br/proaf.

Proaf divulga homologação das inscrições para Programa Afirmativa

A Pró- Reitoria de Ações Afirmativas (Proaf) divulgou o resultado da homologação das inscrições do Programa de Bolsas de Pesquisa e Extensão para Estudantes Cotistas – AFIRMATIVA 2020.

A pró-reitoria destaca o sucesso do programa, que pela primeira vez, desde a sua primeira versão em 2016, recebeu 149 proposições, com 317 subprojetos inscritos e agradece a participação dos docentes e discentes que submeteram propostas nesta edição, contribuindo assim para o fortalecimento do programa.

Nesta edição, o Programa recebeu inscrições de quase todos os Departamentos da UNEB, com ampla participação dos campi do interior. Ressalta-se, ainda, a ampliação da procura pela Faixa B, com as temáticas livres, que recebeu 87, dentre as 149 propostas apresentadas por docentes.

“Comemoramos o número expressivo de inscritos no programa, ao tempo em que agradecemos a toda comunidade acadêmica, pela aposta em ações de estímulo à pesquisa e extensão, com o apoio financeiro para estudantes cotistas,”  pontua a gerente de Ações e Projetos Estratégicos da Proaf, Iris Verena de Oliveira.

É importante destacar a evolução do quantitativo de bolsas concedidas pelo programa, que, em 2020, contemplará 200 estudantes cotistas.

“O Programa Afirmativa se constitui na mais importante política de ação afirmativa de permanência acadêmica para nossos estudantes cotistas. A garantia dessa política é desafio nosso, compromisso da Uneb ” destaca a pró-reitora (Proaf), Amélia Maraux

Outra novidade é que o programa conta agora com plataforma própria – Sistema Afirma – para realização de todo o processo de inscrições e avaliação das propostas submetidas.

Confira o resultado das inscrições homologadas na página da PROAF e também acessando o Sistema Afirma (Seleções inscritas/Acompanhar resultados).

Os docentes responsáveis pelos projetos deferidos com restrições devem acessar o Sistema Afirma para verificar os documentos pendentes e enviá-los, exclusivamente pelo email afirmativa.proaf@uneb.br, entre os dias 1º e 3 de março.

Informações: afirmativa.proaf@uneb.br.

AFIRMATIVA: Programa de bolsas para estudantes cotistas reabre inscrições até 21/02

A Pró-Reitoria de Ações Afirmativas (Proaf) da UNEB reabriu, até 21 de fevereiro, o período para submissão de propostas ao Programa de Bolsas de Pesquisa e Extensão para Estudantes Cotistas – AFIRMATIVA 2020.

Nesta edição, a iniciativa concederá o dobro de bolsas (200), exclusivamente, para estudantes negros(as), indígenas, quilombolas, ciganos(as), pessoas com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades, transexuais, travestis e transgênero cotistas regularmente matriculados nos cursos de graduação na modalidade presencial da UNEB.

Os pleiteantes vão concorrer às oportunidades mediante a apresentação de um subprojeto, vinculado a um projeto original proposto por um pesquisador. Todos precisam necessariamente ser orientados por um professor da instituição.

Para a inscrição de propostas, os interessados devem verificar se as respectivas propostas se enquadram na Faixa A (140 bolsas), de temáticas prioritárias, ou na Faixa B (60 bolsas), para temáticas livres.

As inscrições devem ser feitas no Sistema AFIRMA, exclusivamente pelo professor proponente. Em hipótese alguma, a submissão da proposta poderá ser realizada presencialmente.

Para mais informações sobre questões técnicas do sistema, envie uma mensagem detalhada para o endereço afirma2020@uneb.br, usando o seu e-mail institucional.

As inscrições só serão concluídas após a manifestação de anuência por parte do estudante candidato, dentro da plataforma, no subprojeto ao qual foi vinculado.

O Programa de Bolsas de Pesquisa e Extensão para Estudantes Cotistas – AFIRMATIVA foi aprovado, em 2016, pelo Conselho Universitário (Consu) da instituição e busca, também, ofertar apoio para permanência qualificada dos(as) discentes e sucesso estudantil.

Informações: afirmativa.proaf@uneb.br.

UNEB convoca para matrícula aprovados em 3ª chamada do Vestibular de Agroecologia

A UNEB divulga a lista de convocados, pela terceira chamada do Vestibular Agroecologia 2020, para os processos de validação para acesso ao Sistema de Cotas e de matrícula.

O certame prevê a oferta de 80 vagas, distribuídas igualmente entre o Departamento de Educação (DEDC) do Campus XIV da UNEB, em Conceição do Coité, e o Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias (DCHT) da Campus XVI, em Irecê.

Todos os convocados devem realizar, entre os dias 1º e 5 de fevereiro, o envio online da documentação solicitada pelo Edital de Matrícula, conforme prevê o novo cronograma frente ao estado calamidade pública causado pela pandemia de Covid-19.

O processo de validação da autodeclaração e demais documentos comprobatórios de acesso ao sistema de cotas acontecerá nos dias 4 e 12 de fevereiro, após envio pela Coordenação Acadêmica para análise e emissão de parecer da Comissão Departamental.

A divulgação da lista homologada de candidatos aptos nas etapas de envio online de documentação e de validação vai ocorrer no dia 17 do mesmo mês. Já o registro de matrícula da 3ª chamada do Vestibular Agroecologia 2020 será realizado do dia 22 ao dia 26 de fevereiro.

Quando solicitado, os estudantes com matrícula registrada deverão apresentar à Coordenação Acadêmica os documentos originais correspondentes àqueles que foram enviados durante as etapas supracitadas.

Informações: selecao.uneb.br/agroecologia2020.

Evento online apresenta ações de pesquisa e extensão dos estudantes cotistas

A UNEB, por meio da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas (Proaf), realiza o III Encontro Afirmativa, entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro, com transmissão online, no YouTube.

A iniciativa, que tematiza os “18 anos de cotas na UNEB”, visa apresentar à comunidade acadêmica os resultados das ações de pesquisa e extensão realizadas por estudantes cotistas, contemplados no Edital Afirmativa vigente entre os anos de 2019 e 2020.

Já nesta segunda-feira (30), às 15h, será transmitida a live “Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas”, que vai abordar o Programa Afirmativa enquanto estratégia de permanência e fomento à qualificação da formação acadêmica do cotista por meio da pesquisa e da extensão.

Nos dias 1º e 2 de dezembro, os estudantes cotistas contemplados com bolsas do Programa Afirmativa, juntamente com os orientadores, apresentarão os resultados das ações de pesquisa e extensão em quatro salas simultâneas, com transmissão ao vivo.

A live de encerramento terá como tema “Ideias subterrâneas que servem de guia para a gente se transformar e encarar o mundo”, e vai discutir a importância da formulação de uma política estadual de Ações Afirmativas na Bahia.

O III Encontro Afirmativa é um evento que apresenta à comunidade unebiana Ações Afirmativas coordenadas pela Proaf, que visam à permanência estudantil através do estímulo para ingresso em grupos de pesquisa, participação em eventos acadêmicos e iniciação em atividades de pesquisa e extensão.

Informações: Ig @proafuneboficial

18 anos de Cotas na UNEB: Histórias de Lutas e Garantia de Direitos

Em 2020, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) celebra os 18 anos da aprovação do seu Sistema de Cotas. Para além de estabelecer um marco para essa história de lutas e garantia de direitos, a instituição cria novas oportunidades para reverenciar muitas outras histórias, sobretudo, da ancestralidade.

Para compreender o panorama que culminou na deliberação da política institucional de ação afirmativa, é preciso puxar o fio da memória. O racismo enquanto tecnologia de opressão e relação de poder já era denunciada há sucessivas décadas no país, sobretudo, pelo Movimento Negro Brasileiro.

O evento na África do Sul foi um marco para as discussões mundiais sobre ações afirmativas

Cenário não exclusivo do Brasil, já que no início dos anos 2000 “a despeito dos esforços da comunidade internacional, os principais objetivos das três Décadas de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial não foram alcançados”, conforme registra a Declaração de Durban, da qual o Brasil é signatário.

O documento, assim como o evento no qual foi produzido, são fundamentais para a percepção da necessidade de redefinição do espírito do novo século. Em 2001, foi promovida a Terceira Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, pela Organização das Nações Unidas (ONU), em Durban, na África do Sul.

Movimentos negros e de mulheres negras se organizavam para participar desse marco histórico. A UNEB esteve representada nessa preparação pela sua então reitora, professora Ivete Sacramento, que foi convidada, junto a outras intelectuais, como Mãe Stella de Oxóssi, para participar da elaboração do texto que foi entregue pelo país na conferência.

Houve uma verdadeira efervescência dos debates sobre as políticas de ação afirmativa após a “Conferência de Durban”, que contou com anuência internacional da sua declaração e do plano de ação proposto. O evento teve início no dia 31 de agosto e foi encerrado em 8 de setembro de 2001.

Debate, racismo e reparação

Mesmo o Brasil tendo sido subscritor dos vários documentos que se posicionavam de maneira radical contra o racismo, internamente mantinha níveis elevados de desigualdades raciais. O que sinalizava para a urgente necessidade de ações de enfrentamento ao racismo estrutural e institucional, como pontua a atual pró-reitora de Ações Afirmativas (Proaf) da UNEB, Amélia Maraux.

Matilde Ribeiro: “A sociedade brasileira se desarvorava entre grupos a favor e contra”

De acordo com a primeira ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Matilde Ribeiro, os conhecimentos sobre ações afirmativas ainda estavam se difundindo entre os brasileiros, no período. “A sociedade brasileira se desarvorava entre grupos a favor e contra. O debate era muito intenso”, relatou, no evento celebrativo pelos 18 anos das Cotas na universidade, em agosto último.

Com o país dividido, mas, ciente dos compromissos antirracistas pactuados e que deveriam ser também implementados pelos estados e suas representações, a primeira reitora negra do Brasil, Ivete Sacramento, solicita a realização de um estudo referencial sobre cotas, para submissão ao Conselho Universitário (Consu), instância máxima deliberativa da UNEB.

“Fomos tidos como autoritários. Ninguém sabia, de fato, o que eram ações afirmativas, o que eram medidas de reparação, e porque estávamos buscando pôr em prática as cotas”, afirma professora Ivete.

A ex-reitora lembra que, à época, um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que apenas “1% dos negros e negras do Brasil estava nas universidades”. Realidade corroborada por estudo produzido pelo pesquisador Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, que conta com resultados dispostos na Resolução Consu Nº 196/2002.

Ivete Sacramento, primeira reitora negra do Brasil: “Fomos tidos como autoritários”

Então, em cumprimento ao conteúdo da Portaria nº 828/2002, da Reitoria da UNEB, foi instituída uma comissão, composta pelos professores Valdélio Santos Silva e Wilson Roberto de Mattos e o então discente Osni Cardoso de Oliveira, para “elaborar critérios de estabelecimento de quotas para o acesso dos afro-descendentes à UNEB”.

“Já havíamos participado dessas discussões de alguma maneira, o movimento negro já havia discutido isso. Quando chegou na UNEB, levamos em consideração esse histórico anterior. Tínhamos também informações de ações afirmativas já desenvolvidas em outros países, como, por exemplo, os Estados Unidos e a África do Sul”, destaca professor Wilson.

O parecer resultante desse trabalho se associou, então, às contribuições de um histórico de reivindicações sócio-políticas, de segmentos que se posicionavam em favor das lutas pela democratização e inclusão das populações historicamente discriminadas. E, em 18 de julho de 2002, após debate interno no CONSU, a UNEB aprova a implantação do seu Sistema de Cotas (Resolução nº 196/2002).

Um novo momento

Em seu primeiro ato, a reserva de vagas na universidade previa “quota mínima de 40% para população afro-descendente, oriunda de escolas públicas, no preenchimento das vagas relativas aos cursos de graduação e pós-graduação oferecidos pela Universidade do Estado da Bahia, seja na forma de vestibular ou de qualquer outro processo seletivo”.

O professor Wilson Mattos destaca que experiências anteriores foram investigadas

Eram considerados afrodescendentes, para os efeitos da resolução, os candidatos que se autodeclaravam “como pretos ou pardos, ou denominação equivalente, conforme classificação adotada pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE)”.

Para a professora Ivete Sacramento, a autodeclaração foi outro trunfo da ação afirmativa na instituição: “Pela primeira vez, por conta da adoção das cotas, as pessoas tiveram que se autodeclarar. Até então, poucos haviam feito a pergunta: sou afrodescente?”

Dessa maneira, a UNEB foi a primeira instituição de ensino superior (IES) do Brasil a instituir o sistema de cotas raciais a partir de deliberação interna, sem decretos do executivo estadual. Assim, se juntou à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) no pioneirismo das ações afirmativas universitárias. Mas, o momento não era apenas de celebração.

“Foi um dos piores momentos que passei em termos de segurança pessoal e familiar”, relata a professora Ivete, destacando que a confiança na decisão acertada foi consolidada após o recebimento de carta anônima, com teor racista, logo um dia após a aprovação, depois de falar sobre o feito histórico da instituição para uma rede de televisão local (veja transcrição do conteúdo da carta).

Um dia após a aprovação do Sistema de Cotas, a reitora recebeu uma carta racista

Ataques se tornariam ainda mais constantes. Dentre os principais argumentos: a acusação de ser uma política assistencialista e inoportuna; e as expectativas, igualmente preconceituosas, de que os estudantes negros cotistas egressos da escola pública poderiam não concluir seus respectivos cursos e indicariam para uma perda da qualidade do ensino e da excelência das universidades.

“Essas afirmações, que eram mera suspeita ideológica e racista, não surgiram apenas na UNEB, foram nacionais. Mas, foi provado posteriormente que o desempenho dos cotistas não registra diferenças substantivas para os demais. Existe, na média, um desempenho razoável para todos”, salienta o professor Wilson Mattos.

As provas citadas pelo docente constam no artigo intitulado “10 Anos de Ações Afirmativas na UNEB: desempenho comparativo entre cotistas e não cotistas de 2003 a 2009”, resultado de pesquisa coordenada por ele, e desenvolvida em parceria com as pesquisadoras Kize Aparecida Silva de Macedo e Ivanilde Guedes de Mattos.

A análise recebe apoio de Céres Santos, professora da UNEB, que participou também da instituição das cotas na Ufba, em 2004: “Costumo dizer que, na verdade, essa política mostrou o quanto se dimensionava mal o conhecimento dos jovens provenientes do ensino privado, das melhores escolas”.

Ceres Santos: “Podemos ver como o racismo mascara uma realidade”

Ela segue: “Na verdade, esse grupo que sempre viveu dos privilégios e, inclusive, no acesso ao ensino superior, mostrou que não era o que a gente imaginava. E, no fim, quando você coloca os dois grupos, a diferença é muito pequena. Então, podemos ver como o racismo mascara uma realidade”.

Fortalecimento de debates e ações

De acordo com a ex-ministra Matilde Ribeiro, experiências de ações afirmativas como a da UNEB, da UERJ e da Universidade de Brasília (UnB), primeira federal a instituir sistema próprio de cotas, foram referências que contribuíram fundamentalmente para o avanço e qualificação dos debates nacionais sobre o tema.

“Esse processo nacional é bastante rico e estimulador para quem defende as ações afirmativas. Tivemos, sem dúvida, uma vitória nesse debate público e estamos avançando na implementação das cotas mesmo em situações adversas”, destaca a pesquisadora, que atualmente integra o quadro da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).

No bojo das conquistas citadas pela ex-ministra, estão a Lei Federal nº 10.639/2003, que incluiu no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.

Na vanguarda dos enfrentamentos, a UNEB avançou para a ampliação do seu Sistema de Cotas já em 2007, com a garantia dos 40% de vagas para candidatos negros e inclusão de novos 5% para candidatos indígenas, nos processos seletivos da graduação e pós-graduação (Resolução Consu nº 468/2007).

A política sofreu mudanças dois anos depois, quando a Resolução Consu nº 710/2009 foi publicada, incluindo a obrigatoriedade dos pleiteantes à reserva de vagas terem “cursado todo o 2º Ciclo do Ensino Fundamental e o Ensino Médio em Escola Pública” e “renda bruta familiar mensal inferior ou igual a 04 (quatro) salários mínimos”.

Ana Celia da Silva: “Cotas são direito e princípio da reparação que ainda não foi feita”

Já em 2011, a universidade alterou a proposição, e transformou os 5% para indígenas em sobrevagas, que são o quantitativo resultante da aplicação do percentual de cota sobre o número de vagas oferecido por turma/curso (Resolução Consu nº 847/2011).

O êxito institucional em suas ações de inclusão e democratização da educação superior, assim como a ativa participação dos seus pesquisadores nos debates nacionais sobre os temas é, mais uma vez, citado pela professora Matilde Ribeiro como promotor de novas revoluções não só no estado, como no país, a exemplo da Lei Federal nº 12.711.

Regulamentada pelo Decreto nº 7.824/2012, a Lei que ficou conhecida como “Lei das Cotas” garante a reserva de 50% das matrículas por curso/turno “nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos”.

“Cotas não são favor, são um direito. A prova é igual, o acesso é igual. Só não existe a discriminação das pessoas que vêm de escola pública, com o currículo defasado pela ausência de professores, para alunos que vêm de colégios particulares de elite. Aí está a justeza das cotas, que são direito e princípio da reparação que ainda não foi feita”, defende a professora aposentada e proeminente participante do debate sobre ações afirmativas na UNEB, Ana Celia da Silva.

Leia também à 2ª parte desta reportagem: “18 anos de Cotas na UNEB: Conquistas e Reverências à Ancestralidade”

18 anos de Cotas na UNEB: Conquistas e Reverências à Ancestralidade

Em 2020, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) celebra os 18 anos da aprovação do seu Sistema de Cotas. Para além de estabelecer um marco para essa história de lutas e garantia de direitos, a instituição cria novas oportunidades para reverenciar muitas outras histórias, sobretudo, da ancestralidade.

A UNEB criou o órgão e o integrou à sua Administração Central em 2014

Marco fundamental para o avanço da gestão e do acompanhamento das políticas de reparação histórica na instituição, a implantação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas (Proaf) da UNEB foi autorizada, em 2014, pelo Conselho Universitário (Consu), instância máxima deliberativa (Resolução nº 1020/2014).

Já no mesmo ano, a primeira gestão foi assumida pela professora Marluce Macêdo. Do momento da implantação em diante, sucederam-se debates institucionais sobre os caminhos para as ações afirmativas na universidade, o ingresso e a permanência qualificada e as formas possíveis de combate ao segregacionismo intencional e historicamente construídos no país.

Em 2016, já sob a gestão do professor Wilson Mattos, foi promovida a I Conferência Universitária de Estudantes Cotistas da UNEB (CONFCOTAS), com o objetivo de produzir um processo democrático de discussão com vistas à elaboração de um Programa de Permanência para Estudantes Cotistas.

O Programa de Bolsas de Pesquisa e Extensão para Estudantes Cotistas – AFIRMATIVA foi lançado no mesmo ano, após aprovação do Conselho Universitário (Consu) da instituição (Resolução nº 1.214/2016).

Para fortalecer o debate sobre a permanência discente, evento foi realizado em 2016

A iniciativa, que permanece ativa, garante a inserção de discentes ingressantes pelo sistema de reserva de vagas/sobrevagas no desenvolvimento inicial, orientado e supervisionado de atividades de elaboração e execução de projetos de pesquisa, extensão e de difusão do conhecimento.

O programa tem por objetivo possibilitar a esses estudantes uma forma específica de associação e ambientação coletiva, que dê suporte material, intelectual e subjetivo ao desenvolvimento satisfatório de suas respectivas trajetórias acadêmicas, fortalecendo os seus processos formativos.

“Caminhamos muito nessa direção de fortalecimento das políticas de ações afirmativas na universidade, desde as gestões da professora Marluce e do professor Wilson. A pró-reitoria promove política, a partir de uma articulação acadêmica e social, porque tudo o que fazemos envolve os movimentos sociais, que dão corpo às nossas ações”, explica a atual pró-reitora, Amélia Maraux.

Fortalecimento das vivências estudantis

Como consequência das ações de consolidação das ações afirmativas na UNEB, o Programa AFIRMATIVA foi reformulado em 2019, na gestão da atual pró-reitora, Amélia Maraux.

Com a ampliação do número de bolsas, os discentes participantes passaram a receber em 12 parcelas. O conjunto de área temáticas prioritárias também foi ampliado, e a “Faixa B” foi criada (temáticas livres), visando prestigiar projetos e subprojetos cujas abordagens sejam do interesse de investigação acadêmica dos proponentes.

Amélia Maraux: pró-reitoria promove política, a partir de uma articulação acadêmica e social

O fortalecimento da ação pôde ser notado pelo expressivo número de inscrições de projetos, o que garantiu o preenchimento de todas as 100 vagas oferecidas, fato inédito para o programa. A partir desse resultado, a Proaf já formalizou a solicitação para ampliação da oferta, que tramita nos conselhos superiores da universidade.

Ainda no último ano, a Proaf passou por reestruturação, aprovada pelo Conselho Universitário (Resolução Consu nº 1.397/2019). A nova organização e distribuição de competências entre os setores da pró-reitoria busca impulsionar e robustecer as ações afirmativas na instituição, através da construção de políticas, programas e projetos.

Outra ação de destaque foi a construção do livro/coletânea “Série Ações Afirmativas: Educação e Direitos Humanos”, que se destina à divulgação da produção acadêmica relacionada aos campos de gênero, sexualidades, feminismos, masculinidades, questões étnico-raciais, comunidades quilombolas, educação inclusiva, cultura cigana, africanidades, interculturalidade, Lei 11.645/06, direitos humanos, racismo, lgbtfobia, ações afirmativas, inclusão de pessoas com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades.

Espaço para publicação de artigos sobre ações afirmativas no Brasil

“Entendemos, com a proposta da Série, a urgência de publicizar os debates acadêmicos possibilitados pela experiência acumulada com as Ações Afirmativas na UNEB, através do diálogo com outras instituições do país, para formulação de políticas públicas de acesso e permanência de estudantes cotistas, assim como vivências no ensino, pesquisa e extensão, em níveis de graduação e pós-graduação”,  ressalta a coordenadora do projeto, Iris Verena Oliveira.

Em seu volume I, publicado no último ano em parceria com a Editora da UNEB (EdUNEB), a Série teve como tema “Diferenças e Práticas Formativas”, destacando experiências de pesquisa, ensino e extensão em espaços formais e não-formais de educação, na educação básica e superior, comprometidas com práticas interculturais, pós-coloniais, interseccionais, decoloniais, atravessadas pelo eixo: educação e direitos humanos.

O segundo volume da série, a ser publicado no primeiro semestre de 2021, trará o tema “Acesso e permanência de estudantes cotistas no ensino superior”, com a pretensão de socializar artigos que tratem do ingresso de estudantes pelo sistema de cotas; ações voltadas para permanência estudantil; e discussões sobre o cotidiano de estudantes cotistas na graduação e pós-graduação.

Assim, a Proaf intenta criar um espaço para publicação de artigos sobre ações afirmativas no Brasil, demarcando o importante papel cumprido pela UNEB na história do sistema de cotas para o ensino superior no país.

Inclusão e maior acompanhamento

Para que sucessivos avanços fossem possíveis, em recapitulação, o ano de 2018 inaugurou um novo marco histórico para as políticas institucionais de ações afirmativas na UNEB.

Em profunda articulação com os movimentos populares e se mantendo firme pela inclusão das populações histórica e socialmente discriminadas, a Proaf apresentou uma proposta de ampliação para o Sistema de Cotas, que foi aprovada por unanimidade pelo Consu (Resolução Consu nº 1339/2018).

Já no Vestibular UNEB 2019, com provas realizadas ainda no ano anterior, puderam também concorrer aos 5% de sobrevagas, em todos os cursos ofertados pela universidade: quilombolas; ciganos; pessoas com deficiência, com transtorno do espectro autista e com altas habilidades; transexuais e travestis, contabilizadas as cotas separadamente para cada grupo.

“Venceram os movimentos sociais, venceu o movimento negro, venceu a democracia. Hoje pululam leis, decretos e normativas que legislam e legitimam a política de reparação das pessoas, povos, grupos e comunidades que foram e são diuturnamente violentadas pelos racismos, capacitismos e sexismos que imperam no país”, celebra a gerente de Promoção e Acompanhamento das Ações Afirmativas da Proaf, Dina Maria Rosário, coordenadora do projeto que culminou na proposta apresentada ao Conselho Universitário.

Segunda edição ocorreu durante o IV Encontro Integrado de Ensino, Pesquisa e Extensão

Frente às conquistas, às quais se soma a II Conferência dos Cotistas da UNEB, fortaleceram-se também as ações de acompanhamento do acesso ao sistema de cotas já empreendidas pela pró-reitoria.

No mesmo ano de 2018, como fruto do trabalho de um grupo  composto por docentes pesquisadores, técnicos e analistas, estudantes, representantes das pró-reitorias acadêmicas e representantes de movimentos sociais houve a  regulamentação das Comissões Central e Departamentais de Validação para Acesso ao Sistema de Cotas.

Por meio dessa ação, a matrícula de candidatos optantes pelo sistema de cotas passou a contar com duas etapas: a validação da autodeclaração e demais documentos comprobatórios e a própria efetivação da matrícula.

A validação é realizada por comissões que passaram a atuar junto às coordenações acadêmicas nos processos de matrícula de aprovados pelo Vestibular UNEB ou pelo Sistema de Seleção Unificado (SiSU), do Ministério da Educação (MEC).

“É a primeira vez, na história da universidade, que a gente tem comissões voltadas para o acompanhamento in loco dos ingressantes. Caminhamos nesse desafio que não é só da UNEB, porque nós dialogamos bastante com os movimentos sociais para construir esse caminho”, ressalta professora Amélia Maraux.

Além da criação das comissões, a Proaf iniciou um processo de formação para elas, através de curso mediado por tecnologias intitulado “Deslimites”. Assim como compôs um grupo de trabalho (GT) para acompanhamento do sistema de cotas.

Ainda no mesmo ano, a pró-reitoria realizou uma atualização do questionário socioeconômico-cultural, parte integrante da inscrição do Processo Seletivo Vestibular, como estratégia para qualificar e refinar as informações acerca do perfil dos candidatos inscritos, aprovados e matriculados na UNEB; subsidiar decisões institucionais e embasar pesquisas acadêmicas.

“Lutamos diariamente contra o racismo, o capacitismo, a LGBTfobia e a transfobia, então, temos ainda um caminho no sentido da consolidação das políticas de ações afirmativas. E isso perpassa, também, pela consciência institucional com relação à existência desses outros sujeitos dentro da universidade, esse é um caminho, uma luta, um processo”, registra Amélia.

Ainda de acordo com a pró-reitora, está em processo de conclusão a Política de Acessibilidade e Inclusão da UNEB. Construída com participação de pesquisadores da área, cuja escuta qualificada garantiu o rigor técnico-científico da proposta. A política concretiza o compromisso da instituição com a garantia dos direitos da pessoa com deficiência. A proposta deverá ser encaminhada ao Consu ainda neste ano.

Seis resoluções do Conselho Universitário que atualizaram o Sistema de Cotas da UNEB

Desafios, transformações e perspectivas

“Antes, nós tínhamos uma cota de 100% para pessoas não negras na universidade”, lembra a professora Ivete Sacramento, enquanto registra as violências institucionais da história do Brasil, o que considera “ações afirmativas contrárias”, a saber:

Ivete Sacramento: “Antes, nós tínhamos uma cota de 100% para pessoas não negras”

Lei que proibia escravizados e descendentes de escravizados de frequentar a escola pública (1837); Lei de Terras (1850); Lei do Ventre Livre (1871); Lei dos Sexagenários (1885); Lei Áurea (1888), logo sucedida pelo Decreto Nº 847 (1890), que estabelecia o Código Penal da época, criminalizando a prática da capoeira, por exemplo; e a Lei do Boi (1968).

“O sistema de cotas como ação afirmativa é um direito conquistado. É isso que tem que ser interiorizado pelos estudantes. É um direito dos nossos antepassados, que lutaram muito para que a gente os tivesse na contemporaneidade”, defende o professor Wilson Mattos.

Após 18 anos de experiência na UNEB, e a oportunidade de rememorar e reverenciar outras tantas histórias, foram fomentadas inovações nas formas de sociabilidade entre discentes de diferentes realidades socioeconômicas, culturais e étnico-raciais e contribuições para mudanças da cultura acadêmica da universidade.

José Bites: ações afirmativas buscam promover a equidade e a valorização da diversidade

“Entendemos que os programas de ações afirmativas precisam ser mantidos, sobretudo, porque buscam promover a equidade e a valorização da diversidade. E é importante garantir, enquanto princípio institucional, essas agendas, a participação e a difusão dessas discussões para a conscientização de todos da comunidade acadêmica e da sociedade baiana”, destaca o reitor da UNEB, José Bites de Carvalho.

De acordo com a recente “Pesquisa UNEB 2020: Nós por Nós”, realizada entre os últimos meses de agosto e setembro, com contribuições de todos os segmentos institucionais, 78,9% dos 14.512 estudantes respondentes se identificaram como negros, pardos ou indígenas.

As mudanças são também registradas nas atividades de ensino, pesquisa e extensão: “Vemos emergir eixos de conhecimentos que questionam esse lugar de uma epistemologia ocidental, branca, masculina, abrindo caminhos para a consolidação de outros referenciais teóricos e metodológicos”, ressalta a pró-reitora Amélia.

Última edição da iniciativa preencheu todas as vagas disponíveis para estudantes cotistas

Para o professor Wilson, a presença dessas populações, que eram ausentes da vida universitária, física, verbal, cultural e simbolicamente, de maneira inequívoca acabam por provocar mudanças significativas nas agendas da universidade.

Outra importante transformação institucional sinalizada pela professora Dina Maria Rosário é a fundação, após a implantação do Sistema de Cotas, de centros, núcleos, laboratórios e grupos de pesquisa e/ou extensão que desenvolvem estudos na temática das ações afirmativas na UNEB, a exemplo dos:

Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (CEPAIA);
Centro de Pesquisas em Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação (OPARÁ);
Centro de Estudos e Pesquisas Intercultural e da Temática Indígena (CEPITI);
Centro de Referência em Desenvolvimento e Humanidades (CRDH);
Centro de Estudos em Gênero, Raça/Etnia e Sexualidade (CEGRES/Diadorim);
Núcleo de Educação Especial (NEDE).

A UNEB segue comprometida com a institucionalização das ações afirmativas

Como atesta a professora Amélia Maraux, a implementação dessas iniciativas, voltadas para as temáticas afeitas às ações afirmativas, contribui sobremaneira para os enfrentamentos e desafios impostos pelas diferentes formas de preconceitos e violências, que impactam a vida de estudantes, professores e técnicos-administrativos negros, quilombolas, deficientes, LGBTI+.

“Neste ano de 2020, com o impacto da pandemia e o aprofundamento das desigualdades, os desafios postos para a gestão universitária se colocam de maneira mais contundente. Devemos pensar, portanto, os caminhos possíveis para a permanência estudantil como um grande desafio, neste momento em que a universidade implementa a oferta de ensino remoto”, destaca a gestora.

Portanto, “nesta celebração dos 18 anos, a universidade se mantém comprometida com a institucionalização das ações afirmativas”, conclui a pró-reitora de Ações Afirmativas da UNEB, Amélia Maraux.

Leia também à 1ª parte desta reportagem: “18 anos de Cotas na UNEB: Histórias de Lutas e Garantia de Direitos”

UNEB convoca para matrícula aprovados em 1ª chamada do Vestibular de Agroecologia

A UNEB divulga a lista de convocados, pela primeira chamada do Vestibular Agroecologia 2020, para os processos de validação para acesso ao Sistema de Cotas e de matrícula.

O certame prevê a oferta de 80 vagas, distribuídas igualmente entre o Departamento de Educação (DEDC) do Campus XIV da UNEB, em Conceição do Coité, e o Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias (DCHT) da Campus XVI, em Irecê.

Todos os convocados devem realizar, nos dias 23 e 24 de novembro, o envio online da documentação solicitada pelo Edital de Matrícula, conforme prevê o novo cronograma frente ao estado calamidade pública causado pela pandemia de Covid-19.

O processo de validação da autodeclaração e demais documentos comprobatórios de acesso ao sistema de cotas acontecerá nos dias 25 e 26 deste mês, após envio pela Coordenação Acadêmica para análise e emissão de parecer da Comissão Departamental.

A divulgação da lista homologada de candidatos aptos nas etapas de envio online de documentação e de validação vai ocorrer no dia 27 de novembro. Já o registro de matrícula da 1ª chamada do Vestibular Agroecologia 2020 será realizado do dia 30 deste mês até o dia 2 de dezembro.

Quando solicitado, os estudantes com matrícula registrada deverão apresentar à Coordenação Acadêmica os documentos originais correspondentes àqueles que foram enviados durante as etapas supracitadas. A segunda chamada do certame deve acontecer no dia 7 de dezembro.

Informações: selecao.uneb.br/agroecologia2020.