Salvador foi palco da 9ª edição do Encontro de Lésbicas e Mulheres Bissexuais da Bahia (Enlesbi-BA), realizado entre os dias 13 e 15 setembro. Consolidado como um espaço para o fortalecimento das lutas e conquistas das mulheres lésbicas e bissexuais, o evento reuniu participantes de diferentes regiões do estado e do Brasil, fomentando discussões sobre direitos, visibilidade e políticas públicas.
Organizado em parceria com movimentos sociais, como a Liga Brasileira de Lésbicas e Mulheres Bissexuais (LBL), e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), o evento destacou a importância de amplificar a representatividade e as vozes das mulheres lésbicas e bissexuais em todos os âmbitos da sociedade.
Na manhã de sábado (14), a roda de conversa intitulada “Pensando a Construção de Redes Formais e Movimentos Sociais de Enfrentamento às Violências contra Lésbicas e Mulheres Bissexuais” contou com a participação de Rosane Vieira, pró-reitora de Extensão (Proex) da UNEB, e da professora Amélia Maraux.
“Ao apoiar eventos como o Enlesbi, estamos investindo recursos para que o movimento lésbico possa se articular de forma efetiva, construindo e avaliando políticas públicas que defendam as questões LGBTQIAPN+”, disse Rosane. Segundo a gestora, esse apoio não só fortalece o movimento lésbico, mas também enriquece a comunidade acadêmica da UNEB, permitindo que estudantes, docentes e técnicos que não têm acesso a essas discussões possam se informar, se tornar pessoas aliadas ou reconhecer sua própria conexão com a comunidade. “A extensão universitária, assim, cumpre seu papel fundamental ao facilitar a articulação e o engajamento com temas de relevância social, promovendo uma transformação significativa tanto na universidade quanto na sociedade”, frisou.
Desde a sua criação, em 2013, o Enlesbi se destaca como o único encontro estadual voltado exclusivamente para lésbicas e mulheres bissexuais na Bahia. Amélia Maraux, docente da UNEB no Campus XIV, em Conceição do Coité, e uma das organizadoras do evento, ressaltou a importância histórica do encontro na articulação entre universidade e movimento social. “O projeto se consolidou como uma ação que articula o movimento social como produtor de conhecimento. A UNEB tem sido parceira desde a primeira edição e mantém seu compromisso com a pauta LESBI, que envolve visibilidade, ações afirmativas e o enfrentamento à lesbofobia”, afirmou, destacando como o Enlesbi serve como um exemplo concreto de como a universidade pode atuar na produção de conhecimento crítico e transformador.
Outras vozes presentes também trouxeram reflexões importantes. Bárbara Rabelo, discente do Campus XXIV da UNEB, em Xique-Xique, enfatizou o impacto da troca de experiências no evento: “A diversidade e os desafios discutidos proporcionaram não apenas aprendizado, mas também um sentimento de pertencimento, algo que muitas vezes falta nos espaços tradicionais”, afirmou. Para Bárbara, o Enlesbi proporcionou um espaço seguro e de acolhimento, algo essencial para o fortalecimento das identidades lésbicas e bissexuais.
Ocupar espaços
A exposição de colagens de fotografias da artista e catarinense, Guilhermina Cunha, foi uma das manifestações artísticas do evento. Guilhermina apresentou uma série de recortes e colagens que documentam a presença e as vivências de mulheres lésbicas e bissexuais nos movimentos sociais. “A intenção é mostrar os lugares onde estão as lésbicas, onde estão as mulheres bissexuais, onde estamos em todos os momentos”, explicou. Guilhermina destacou que, desde a primeira edição do Enlesbi, em 2013, tem participado ativamente do evento, enfatizando que a iniciativa é um meio para dissolver estigmas através do afeto e do debate por mais democracia e direitos humanos.
Representantes de 11 campi da UNEB estiveram presentes no evento. O Campus XXIV, em Xique-Xique, esteve representado por estudantes do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, bem como pelo coletivo Acordar, movimento social LGBTQIAPN+ da cidade. Aigara Miranda, diretora do campus, mulher negra e lésbica, destacou a importância de ocupar espaços de poder e decisão. “Acredito que é fundamental levantarmos as bandeiras da inclusão e transformarmos as vidas que estão em formação dentro da universidade”, salientou. A docente concluiu: “Enquanto pessoa, professora e gestora, é nosso papel trabalhar essa temática em todos os espaços da universidade, e mostrar a importância da nossa inclusão”.
O encontro contou com a participação de Luciara de Freitas, do Grupo Afirmativo de Mulheres Independentes (Gami-RN), movimento social do Rio Grande do Norte dedicado às mulheres lésbicas. Luciara, que se apresentou como uma mulher negra e bissexual, trouxe perspectiva sobre a importância de ocupar espaços e formar redes de apoio mútuo. Em sua fala, ela abordou a necessidade de visibilidade e reconhecimento dentro dos movimentos sociais. “Estamos aqui para desmistificar e trazer à tona questões de gênero e sexualidade que frequentemente são tratadas de maneira tímida. O Enlesbi é uma plataforma para afirmar a presença e as contribuições das mulheres lésbicas e bissexuais, assim como de outros corpos divergentes, em todos os setores”, ressaltou.
A troca de experiências e a diversidade de vivências entre as participantes foi um dos grandes diferenciais do evento. Letícia Santos França, estudante do IFBA, mulher lésbica preta e quilombola, destacou a importância de ampliar as discussões políticas e de gênero em espaços como oportunizado no encontro. “Eu cheguei cheia de expectativas para o Enlesbi, é a primeira vez que estou participando, e com as poucas conversas que já tivemos, eu já consegui enxergar as coisas de uma forma totalmente diferente”, disse Letícia, reforçando que o evento contribuiu para sua própria forma de “reexistir” e trazer essa luta para outros espaços, como seu campus e além.
O Enlesbi contou com a contribuição de Erica Capinam, da Liga Brasileira de Lésbicas e Mulheres Bissexuais, que também participou da organização do encontro. Erica compartilhou que o evento é, antes de tudo, um espaço vital para a formação política e a resistência contínua. “Nosso maior desafio ainda é garantir o financiamento contínuo para que possamos ampliar o alcance do evento e aumentar o número de mulheres participantes”, asseverou Erica.
A 9ª edição do Enlesbi-BA consolidou o papel fundamental da universidade e dos movimentos sociais na promoção dos direitos e da visibilidade das mulheres lésbicas e bissexuais. Além disso, o ENLESBI-BA serve como um importante ponto de articulação para a recém-criada Rede LGBTQIAPN+ da UNEB, apoiando a inclusão e a conexão entre diversos segmentos da comunidade e reforçando o papel da universidade na promoção de direitos e igualdade.
Texto e fotos: Rozin Daltro/Ascom, com supervisão de Danilo Cordeiro/Ascom