Instituições parceiras na realização das celebrações dos 120 anos do fim da Guerra de Canudos foram representadas
“Das batalhas e massacres, milhões de mortos. Da espora da opressão, matriz de sorte. Geme o povo dos sertões, solta gritos. Gritos de dor. Salve, salve, Canudos. Roga a Deus, ó Maria. Benze o povo e eleva. Cristo é seu guia”.
Participantes confraternizaram, cantaram e assistiram a produções audiovisuais
Assim, em coro, pesquisadores, artistas, gestores e demais interessados pelas histórias e vidas da Bahia cantaram a canção Salve Canudos* e deram início ao Seminário 120 Anos de Canudos, no Museu Eugênio Teixeira Leal, no Pelourinho, em Salvador.
O evento, que é coordenada pela UNEB, teve início ontem (2) e conta com programação hoje (3), no mesmo local. Nas próximas quarta e quinta-feira (4 e 5), as atividades serão promovidas em Canudos.
As reverências ao maior historiador da guerra, José Calasans, deram o tom de fraternidade ao evento. Pesquisadores manifestaram carinho em reencontros, confraternizaram e defenderam a importância de se debruçar sobre os acontecimentos de Canudos para a permanência e a disseminação da história popular do Brasil.
“Não podemos esquecer que Canudos foi um genocídio contra o povo brasileiro. Que a república recém-inaugurada no país deslocou para Canudos o que havia de mais letal no seu exército e matou seres humanos, destruiu uma utopia, um sonho, que permanece vivo pela importância que tem como referência para a memória do povo brasileiro”, destacou Manoel Neto, coordenador do Centro de Estudos Euclydes da Cunha (Ceec) da UNEB.
O pesquisador ministrou a conferência de abertura do evento, intitulada Canudos 120 anos de História e Memória. Durante a atividade, Manoel discutiu a atuação de líderes populares e a conjuntura política da época.
Manoel: “Não podemos esquecer que Canudos foi um genocídio contra o povo brasileiro”
“Debater Canudos nos ajuda a compreender o Brasil do passado, do presente e nos preparar para o que virá. Sobretudo, porque a história popular nunca é reverenciada na mesma proporção da história oficial, das classes dominantes”, avaliou o professor.
Os participantes do evento puderam ainda prestigiar exposição fotográfica, exibição de produções audiovisuais e atividades culturais.
Célebres homenageados
Durante o evento, foram e serão homenageados pesquisadores e artistas que trilharam o caminho de preservação da história e memória da Guerra de Canudos.
Os escritores Oleone Coelho Fontes e Eldon Canário, a antropóloga Luitgarde Cavalcanti Barros e o fotógrafo Claude Santos (em memória) foram laureados pelos colegas José Carlos Barreto, Antonio Olavo, Manoel Neto e Sérgio Guerra, respectivamente.
“O professor Calasans convidou a gente, em 1992, para ir a primeira vez a Canudos e convocou as universidades do país a mandar professores que tivessem algum trabalho sobre esse mundo e, na Uerj, eu defendi a primeira dissertação sobre o Padre Cícero no país. Comemoro 25 anos de farra com os conselheiristas da Bahia”, comemorou Luitgarde.
Homenagens motivaram lembranças e foram marcadas pela emoção
Autor brasileiro com mais livros publicados sobre a Guerra de Canudos, Oleone Coelho Fontes agradeceu pela homenagem e pediu mais comemorações como o Seminário 120 Anos de Canudos.
Emocionado pelo reconhecimento, Eldon Canário o dedicou aos canudenses e, sobretudo, aos que adotaram a região e sua história como lugar de pertencimento por amor e devoção.
Preservação da memória
O evento integra as celebrações pelos 120 anos do fim da Guerra de Canudos, que estão sendo promovidas desde o primeiro semestre e seguem até novembro. Uma comissão constituída pela UNEB, presidida pelo professor da UNEB Luiz Paulo Neiva, coordena as ações.
“Este momento de celebração é importante, porque ele é também de reflexão sobre o papel do estado e das instituições nesta tarefa fundamental de preservar a memória e de combater a pobreza e a desigualdade no semiárido baiano, tomando Canudos como um símbolo importante”, salientou o docente, que dirige o Campus Avançado da instituição no município.
Representantes das instituições parceiras na realização da iniciativa participaram da mesa de abertura do seminário, a exemplo do reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana, Evandro do Nascimento Silva.
Evandro: “manutenção da memória desse evento que foi de suma importância”
“Termos varias universidades reunidas para discutir este evento histórico propicia a manutenção da memória desse evento que foi de suma importância para a história da Bahia e do Brasil”, frisou o gestor.
A mesa de abertura contou ainda com a presença dos pesquisadores Aurélio Lacerda (representante do reitor da Ufba, João Carlos Salles); Fábio Paes (representante do reitor da UCSal, padre Maurício da Silva); Anatércia Contreiras, presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia (CEE); Eliene Dourado Bina, diretora do Museu Eugênio Teixeira Leal; e Oleone Coelho Fontes (representante do presidente do IGHB, Eduardo Morais de Castro).
Programação em Canudos
A programação do seminário foi dividida em duas partes. A segunda será promovida, nos dias 4 e 5 de outubro, no município de Canudos. Na oportunidade, será inaugurado o Núcleo de Robótica do Campus Avançado da universidade na cidade.
Essa iniciativa, que é fruto de parceria entre a UNEB, o Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), e a Campus Party, conta com apoio da Prefeitura de Canudos e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Luiz Paulo: “preservar a memória e combater a pobreza e a desigualdade no semiárido baiano”
Também será realizado o 1º Festival de Cultura, Artes e História de Canudos – 120 anos de resistência, além de homenagens, roda de conversa, visitas ao Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC) e ao Parque Estadual de Canudos (PEC), e apresentações culturais.
Veja programação completa do evento (Parte I e II)
As celebrações pelos 120 anos do fim da Guerra de Canudos são resultado da parceria entre a UNEB, por meio do Projeto Canudos e do Ceec, a Uefs, a Ufba, a UcSal, a Prefeitura Municipal de Canudos, o IPMC, o Museu Eugênio Teixeiral Leal, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), a Academia de Letras da Bahia (ALB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Portfolium Laboratórios de Imagens e o Governo do Estado da Bahia, por meio da Secretaria da Educação (SEC) e da Secti.
*A canção Salve Canudos é de autoria do padre Enoque Oliveira e do pesquisador Fábio Paes, que esteve presente e compôs o coro.
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Fotos: Cindi Rios/Ascom