Abril Indígena: UNEB é pioneira em ações de valorização, inclusão e respeito aos povos indígenas

Centros de pesquisa e licenciaturas indígena, projetos extensionistas em comunidades indígenas, bolsas-auxílio, reserva de vagas no vestibular e Sisu, e a instalação do Campus Intercultural, em Jeremoabo. 

São inúmeros projetos e programas implementados e executados pela UNEB enquanto política de inclusão e permanência indígena, além de ações de valorização e respeito aos nossos povos originários. 

Reitora e vice-reitora da UNEB ao lado dos estudantes do Opará, na reunião do Consu que aprovou a criação do Campus Intercultural

A reitora da UNEB, Adriana Marmori, atua, junto a equipe de gestão da universidade, na implantação e fortalecimento de políticas que democratizam o acesso ao ensino superior público e garantem a assistência estudantil e a permanência universitária. 

“Reitero a importância da presença indígena dentro da universidade, fazendo história, defendendo as línguas e as linguagens, defendendo os saberes construídos em todas as áreas do conhecimento. Nossa universidade reafirma diuturnamente o compromisso com a reparação histórica, com as políticas afirmativas de inclusão e permanência. Esse lugar é de todos e todas, estamos juntos nessa luta”, destaca a reitora. 

Inclusão da comunidade indígena 

Em uma ação pioneira, a UNEB, em 2007 ampliou o sistema de reserva de vagas para as populações indígenas. A medida fortaleceu a democratização do acesso ao ensino superior de grupos populacionais tradicionalmente excluídos.

Brenda: “Estar na universidade é parte do processo de demarcação de territórios para além dos espaços das comunidades”

O cenário que se estabelece após a ampliação do sistema de cotas unebiano é de diversidade na composição discente dos cursos, sobretudo, nos territórios com maior presença de comunidades indígenas, como Norte e Sul da Bahia. Atualmente, a instituição conta com mais de 400 estudantes indígenas, das mais variadas etnias, em cursos de graduação e de pós-graduação, em todas as áreas do conhecimento.

“Estar na universidade é parte do processo de demarcação de territórios para além dos espaços das comunidades. Uma forma de dizer ao mundo que existimos e que aqui permanecemos. É uma maneira de descolonizar esse lugar que até um tempo atrás não era feito e nem pensado para nós, minorias. É uma ferramenta para que nós possamos contar a nossa própria versão da história a partir de agora”, afirma Brenda Kaimbé, estudante do Curso de Pedagogia Intercultural em Educação Escolar Indígena, em Paulo Afonso. 

Permanência dos discentes 

A UNEB está, gradativamente, empenhando-se em promover a institucionalização das condições de permanência dos seus estudantes ingressos através das cotas, de forma que eles tenham satisfatórias condições acadêmicas e econômico-sociais de se manterem nos respectivos cursos, até a integralização.  

Atividades acadêmicas dos estudantes dos cursos Liceei e Pieei no Campus X da UNEB, em Teixeira de Freitas

Entre as ações, está o Programa Apako Zabelê (PBIAZ). Criada em 2022, a iniciativa oferta bolsas de auxílio financeiro aos estudantes indígenas. Neste ano, o programa oferta 287 bolsas aos discentes da universidade. 

Os processos seletivos para ingresso na graduação, através do vestibular da instituição e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), oferecem, obrigatoriamente, 5% das sobrevagas para candidatos indígenas.  

A UNEB é a maior executora do Programa Universidade para Todos (UPT), coordenado pela Secretaria estadual da Educação (SEC), que prepara estudantes concluintes e egressos da rede estadual para seleções de ingresso ao ensino superior. Com turmas em toda a Bahia, inclusive, na comunidade indígena Aldeia Boca da Mata, em Porto Seguro. 

Educação indígena 

E não para por aí, a UNEB também investe, desde 2009, na formação em nível superior de professores de escolas indígenas, através dos cursos das Licenciaturas Intercultural em Educação Escolar Indígena (Liceei) e em Pedagogia Intercultural em Educação Escolar Indígena (Pieei). 

Cerimônia de formatura dos discentes do curso de Licenciatura Intercultural de Educação Escolar Indígena do Centro de Pesquisa Opará

A medida tem como objetivo contribuir para a formação de profissionais e docentes da Educação Básica, que atuam com a educação escolar indígena. 

Neste mês simbólico, foi realizada, no Campus de Paulo Afonso, a formatura de 20 estudantes do curso de Licenciatura Intercultural de Educação Escolar Indígena do Centro de Pesquisa Opará. A solenidade, que representou um marco histórico para os povos originários na Bahia, foi marcada pela emoção dos formandos e de representações de diferentes etnias, especialmente das regiões Norte e Oeste da Bahia.   

“A universidade, apesar dos desafios, abraçou a causa e juntos fomos vencendo todos os obstáculos. Espero que outros indígenas Kantaruré tenham a oportunidade e coragem de concluir a graduação escolhida. Gratidão é a palavra”, diz Sheila Kantaruré, egressa da Liceei. 

Solenidade de diplomação da Licenciatura Intercultural de Educação Escolar Indígena (Liceei) ofertada no Campus de Teixeira de Freitas

Para acolher os novos estudantes das licenciaturas, o Centro de Estudos e Pesquisas Intercultural da Temática Indígena (Cepiti), realizou, no início deste mês, o I Seminário Educação Escolar Indígena: saberes tradicionais, território e universidade, no Campus de Teixeira de Freitas. Participaram do evento, estudantes, docentes, gestores da universidade e lideranças indígenas da região. 

Também em 2023, a UNEB realizou cerimônia de diplomação da Licenciatura Intercultural de Educação Escolar Indígena ofertada no campus de Teixeira de Freitas. 

“A Liceei é fruto de muita luta indígena. A educação é fundamental e deve ser feita do nosso jeito, dentro da realidade e contexto do nosso povo. Não viemos para a universidade para sermos moldados, viemos para quebrar paradigmas e fizemos isso!”, declarou Ângelo Pataxó, discente indígena graduado. 

A maior universidade do Nordeste oferece ainda o curso de Pós-graduação Stricto Sensu em Estudos Africanos, Povos Indígenas e Culturas Negras (PPGEAfin), nos Campi de Salvador e Irecê, e a Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão e Educação Intercultural Indígena, no Campus VIII, em Paulo Afonso.

Campus de Teixeira de Freitas realizou o I Seminário Educação Escolar Indígena: saberes tradicionais, território e universidade

Em março deste ano, o curso de Licenciatura em Educação Escolar Indígena, do recém-criado Campus Intercultural (Jeremoabo) da UNEB foi aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para o Programa Nacional de Fomento à Equidade de Professores da Educação Básica (Parfor Equidade). 

O programa convida as instituições de ensino superior (IES) brasileiras a apresentarem propostas de cursos de licenciatura com objetivo de formação de professores em Cursos das Licenciaturas Indígena, Educação do Campo, Quilombola, Educação Especial Inclusiva e em Educação Bilíngue de Surdos. 

Estudantes do Centro de pesquisa Opará comemoram aprovação da criação do Campus Intercultural, no Consu

Novo Campus Intercultural – Em fevereiro deste ano, o Conselho Universitário (Consu) da UNEB aprovou, por unanimidade, a criação do Campus Intercultural do Centro de Pesquisas em Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação (Opará) – Departamento dos Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Camponesas, no município de Jeremoabo. 

“Estamos honrando uma dívida histórica com os povos originários. Essa é uma vitória, uma grande conquista do povo baiano”, celebrou Adriana Marmori, reitora da universidade e presidente do Consu sobre o Campus Intercultural. 

O novo equipamento vai dedicar atenção ao estudo, pesquisa e extensão acerca dos povos originários, além de ser um espaço para a formação continuada de povos indígenas, comunidades tradicionais. 

Pesquisa indígena

Atualmente a UNEB possui três centros de pesquisa que desenvolvem estudos na área: Centro de Pesquisas em Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação (Opará); Centro de Estudos e Pesquisas Intercultural da Temática Indígena (Cepiti); Centro de Estudos dos Povos Afro-Indígenas-Americanos (Cepaia).  

Os centros são espaços acadêmicos que fortalecem e incentivam as pesquisas, a formação continuada e dinâmica dos Povos Tradicionais, Indígenas e lideranças de Movimentos Sociais em relação à afirmação, conhecimento e valorização dos saberes e fazeres, como forma de empoderamento das identidades e dos seus patrimônios bioculturais. 

Dorival: “A inclusão das culturas indígenas no cenário educacional e social é um marco para a valorização da diversidade cultural brasileira”

A Universidade conta com dezenas de projetos de pesquisa desenvolvidos com a comunidade indígena, contemplando as áreas de História, Educação, Sociologia, Arqueologia, Artes, Biologia Geral, Agronomia e Medicina. 

Docente, indígena e pesquisador do Opará, Dorival Vieira Júnior Tuxá, destaca que o centro de estudo permite que a sociedade possa conhecer mais de perto e respeitar a diversidade dos povos indígenas e os seus respectivos territórios.  

“A inclusão das culturas indígenas no cenário educacional e social é um marco para a valorização da diversidade cultural brasileira. Iniciativas como o Centro de Estudos Opará são vitais para ampliar o conhecimento sobre essas culturas ricas e multifacetadas. Eles oferecem uma plataforma para que as vozes indígenas possam ser ouvidas e nossas histórias, ensinamentos e tradições possam ser reconhecidos e celebrados. Esses esforços não apenas enriquecem o tecido social do Brasil, mas, também fortalecem o respeito e a autonomia dos povos indígenas, contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva”, destaca o pesquisador e primeiro professor indígena efetivo da universidade.

Os centros de pesquisa Cepiti e Opará desenvolvem dezenas de ações de extensão com os povos indígenas. São iniciativas conjuntas em escolas na produção de materiais educativos, formação de professores e professoras indígenas e na agricultura familiar a partir das pesquisas realizadas.

Halysson: “Cepiti possibilitou a implementação inicial das políticas e dos diálogos junto aos povos indígenas no Sul da Bahia”

“O Cepiti foi um dos centros de pesquisas na temática indígena que viabilizou, dentro da UNEB, as primeiras ações que possibilitaram a implementação inicial das políticas e dos diálogos junto aos povos indígenas no Sul e Extremo Sul da Bahia. Nosso centro de pesquisa conta com pesquisadores indígenas e não indígenas articulados e em parcerias com os povos indígenas da região, assessorando, dialogando e fortalecendo ações e as políticas públicas ofertadas a esses povos”, afirma Halysson Fonseca, professor e pesquisador do Cepiti. 

Reconhecimento às lideranças indígenas 

Em 2019, cacique Babau Tupinambá recebeu, pela UNEB, o título de Doutor Honoris Causa

Em reconhecimento aos serviços relevantes ao ensino, à pesquisa, às letras ou às artes, a universidade já concedeu dois títulos de Doutor Honoris Causa a importantes lideranças indígenas da Bahia

Na histórica reunião do Conselho Universitário (Consu), realizada em junho de 2023, foi aprovada a outorga do título de Doutor Honoris Causa a Juvenal Teodoro da Silva. Conhecido como Juvenal Payayá, o líder indígena e escritor é um dos principais defensores da causa indígena e assume um papel importante para o resgate da memória e história dos povos. 

Em 2019, a UNEB também concedeu o título de Doutor Honoris Causa para o líder indígena Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau Tupinambá, personalidade conhecida internacionalmente como referência de luta pelos povos indígenas do Brasil. 

Campanha “O Futuro é Ancestral” 

Campanha Abril Indígena da UNEB faz referência à obra “Futuro Ancestral”, do líder indígena Ailton Krenak

Para celebrar as culturas, memórias e histórias dos povos indígenas, e reforçar a importância da luta resiliente pelo direito à vida e à terra, a UNEB lançou a campanha “O futuro é Ancestral“, alusiva ao Dia dos Povos Indígenas, comemorado em 19 de abril. 

A iniciativa faz referência à obra “Futuro Ancestral”, do líder indígena, filósofo, ambientalista e escritor Ailton Krenak, que traz reflexões sobre o humano e sua origem comum. Para ele, o futuro sempre trará traços da ancestralidade porque nosso DNA é ancestral. É preciso olhar para os saberes e fazeres ancestrais para a humanidade seguir em frente.  

E, nessa perspectiva de vínculo nativo, a UNEB busca reforçar a importância de estreitarmos os laços que nos unem enquanto povo diverso, plural, rico. Somos uno com a natureza, o bem-estar social e o bem-viver, que partem dessa compreensão de unicidade e conexão. É isso que as culturas indígenas defendem e avigoram. 

Contextualizando a data 

Em 19 de abril, celebramos o Dia Nacional dos Povos Indígenas, uma data simbólica que representa a luta e resistência indígena. Uma homenagem à diversidade cultural e histórica dos povos originários que habitam o Brasil, a data tem como objetivos combater preconceitos e exigir que os direitos sejam respeitados.  

Criada em 1943, com o nome de “Dia do Índio”, a comemoração foi adotada no Brasil durante o governo do então presidente Getúlio Vargas. 

Em 2022, a data deixou de ser chamada de Dia do Índio e recebeu oficialmente o nome de “Dia dos Povos Indígenas”, a partir da Lei 14.402, de 2022. A mudança do nome da celebração tem o objetivo de explicitar a diversidade das culturas dos povos originários. 

Texto: Wânia Dias, com colaboração de Danilo Cordeiro e Leandro Pessoa/Ascom

Fotos: Danilo Oliveira/Ascom, Camila Brandão/Ascom-Opará, Cepiti, arquivo pessoal dos entrevistados

Arte campanha “O Futuro é Ancestral”: Marina Marques/Ascom