A convite do tio, João Pedro participou de roda de conversa do I SEMET e foi prestigiado por sua mãe e irmã
“Meu santo tio Paulo, que é um capoeirista profissional, me convidou para o evento e eu fiquei muito animado. Eu vim para fazer novos amigos, conversar e criar um clube. Quando eu criar esse clube, a primeira coisa que vamos fazer é uma reunião de troca, com games, principalmente, do Nintendo 3DS”.
Essas foram algumas das motivações que levaram o estudante João Pedro Moreno, 10 anos, a participar de uma roda de conversa, com colegas da Educação Básica, no I Seminário de (Multi)Letramentos, Educação e Tecnologias (SEMET) da UNEB.
Professores de escolas públicas e privadas puderam viver imersão acadêmica no evento
O chamamento foi feito pelo tio Paulo César Gonçalves, integrante da equipe organizadora do evento, e logo foi acolhido pela mãe, Isaura Moreno, que também levou a irmã do João, Mariana (foto em destaque), para prestigiar a atividade.
O professor Ribamar Júnior viajou mais de 1.100 km, entre o município de Floriano, no Piauí, e Salvador, para também participar do evento. Apesar da diferente posição assumida, sobretudo, na sala de aula, motivos semelhantes aos do jovem João Pedro o fizeram vir de tão longe.
“Vim, com dois bolsistas, para apresentar um pouco das nossas experiências. Este é um espaço de trocar ideias e criar redes. Temos aqui grandes profissionais da área, então, é importante fazer um intercâmbio com o que fazemos lá no Piauí”, destacou o docente.
Em Floriano, Ribamar coordena o Laboratório de Leitura e Produção Textual e o projeto RadioTec, ambos no Colégio Técnico Federal. Nesses espaços, o professor realiza com os estudantes atividades que envolvem “vários letramentos, como o digital e o radiofônico”.
Assim como João Pedro, o professor Ribamar Júnior participou do evento para trocar ideias
O I SEMET contou com extensa programação entre os dias 19 e 21 de setembro, no Campus I da UNEB, em Salvador. O evento foi organizado pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em (Multi)letramentos, Educação e Tecnologias (Geplet), vinculado ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento com Comunidades Virtuais (CV), do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEduC).
Novos desafios
Tanto as colaborações docentes, quanto as discentes, foram essenciais para o seminário promover o estímulo aos debates teóricos e ao compartilhamento de experiências sobre os multiletramentos.
As atividades acadêmicas do evento foram abertas pela conferência (Multi)letramentos, educação e tecnologias: desafios aos sujeitos do Século XXI, proferida pela professora Roxane Rojo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“A mistura de interesses, culturas e posicionamentos consiste em um dos lados do conceito de multiletramentros, ou seja, eu não vou trabalhar com os alunos só para falar das linguagens que compõem o texto, mas também das culturas e dos interesses políticos e sociais que compõe cada texto apresentado”, explicou a docente.
Roxane Rojo discutiu conceitos como multimodalidade e multisemiose
Durante a apresentação, a pesquisadora exibiu trecho de um episódio da série Cidade dos Homens, criada por Fernando Meirelles e Kátia Lund. A linguagem audiovisual foi utilizada para auxiliar os participantes no entendimento de conceitos como multimodalidade, multisemiose e hibridização de sentidos e modalidades.
A imersão acadêmica promovida pela conferência pôde ser experimentada por pesquisadores e professores de escolas públicas e privadas durante os três dias de evento. A programação contou ainda com mesas redondas, comunicações, pôsteres, lançamento de livros e atividades artístico-culturais.
Empoderamento dos sujeitos
Para também contribuir com as trocas promovidas pelo seminário, a pesquisadora Carla Viana Coscarelli veio da Universidade Federal de Minas Gerais (Ufmg) para participar da mesa Multiletramentos e os processos de empoderamento na cultura escolar.
Carla Viana Coscarelli: “É preciso tirar o aluno dessa tradição de passividade”
“É preciso tirar o aluno dessa tradição de passividade dentro da escola e fazer com que ele tenha voz. Ele precisa saber que é um cidadão e que pode mostrar o que ele produz, pensa e sabe”, destacou a professora, salientando que é importante apresentar técnicas, formatos e linguagens para ampliar as alternativas de participação discente.
A proposta de valorizar os conhecimentos da juventude que aprende com as tecnologias foi materializada na roda de conversa “Como aprendem as crianças na sociedade Multiletrada?”.
A atividade contou com a participação de estudantes de escolas baianas públicas e privadas. Os participantes do evento puderam dialogar com os jovens e, inclusive, receber algumas sugestões:
Para a estudante Larissa Brito, de 12 anos, os professores poderiam dispensar maior atenção aos dispositivos móveis e para aplicativos que auxiliam os estudantes nos processos de aprendizagem, a exemplo do Duolingo, que trabalha com idiomas estrangeiros.
Larissa Brito (dir.) participou, com colegas, de roda de conversa
Emocionada com o diálogo franco estabelecido entre professores e estudantes, a coordenadora-geral do Semet, Obdália Ferraz, celebrou a consolidação da proposta do evento.
“Esta é uma oportunidade de estarmos juntos neste necessário debate sobre a urgência da abertura de espaço para que todos experimentem as variadas práticas de multiletramentos na contemporaneidade. Práticas que fazem uso das diferentes mídias e linguagens que circulam nas mais variadas culturas”, ressaltou a pesquisadora.
Contação de histórias
A programação do evento foi encerrada pela conferência Tecnologias digitais e a ressignificação da práxis pedagógica na cibercultura. A atividade foi ministrada pela pesquisadora Edméa Santos, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Edméa Santos recebeu homenagem da professora Obdália Ferraz após conferência
Durante a apresentação, a docente apresentou detalhes do trabalho “Digital Storytelling na Formação de Professor: uma pesquisa-formação na cibercultura”, que desenvolveu em pareceria com a doutoranda Tánia Lucía Maddalena.
O projeto se debruça sobre a contação de histórias dentro de processos de aprendizagem e de formação docente. Nele, as narrativas são entendidas como dados, fontes e formas de comunicar a ciência.
“Formar professores em nosso tempo significa que a gente precisa se desafiar, porque nós ainda passamos pela transição e pelo conflito geracional. Muitos de nós, com mais de 40 anos, não mobilizamos ainda os nossos próprios multiletramentos, e é preciso começar”, salientou Edméa.
A pesquisadora apresentou cases de memes, hiperescritas e narrativas transmídia discutidos pelo Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura (Gpdoc), do qual é líder. Para encerrar, a professora não abdicou da responsabilidade e ainda deu palpites sobre séries como Game of Thrones.
Fotos: Cindi Rios/Ascom
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